Não
são apenas as crianças que têm medos. O medo é uma emoção humana transversal a
todas as idades e, uma vez ultrapassados os medos do escuro, da trovoada e das
figuras monstruosas do imaginário infantil, podem surgir de outra forma, mais
relacionados com a realidade e com o dia-a-dia nas nossas vidas.
O
medo é por demais evidente quando o nosso organismo reage. Dependendo da
intensidade desse medo, podemos simplesmente sentir um aperto do estômago ou
uma necessidade de respirar fundo, mas também é possível que sintamos disparos
do coração e alterações na respiração culminando, no limite, naquilo que
chamamos um ataque de pânico. O suor pode inundar a pele e podemos sentir dor
em diversas partes do corpo. O medo é visceral e será talvez a mais antiga
emoção humana, por vezes útil, sinalizando o que é perigoso fazer e evitando
desgraças maiores. Foi fundamental para a preservação da espécie e na sua
ausência provavelmente estaríamos extintos há milhares de anos.
Por
outro lado, o excesso de medo pode bloquear-nos a possibilidade de viver coisas
boas. Por medo de sofrer consequências dolorosas (físicas ou psicológicas) podemos
tornar-nos incapazes de muita coisa. Muitas pessoas deixam de ser elas próprias
por medo de não serem gostados tal e qual como são. Outros não se ligam a
ninguém por medo de sofrer mais tarde uma decepção ou abandono. Por outro lado,
estar sempre acompanhado também pode ser uma reacção ao medo, medo de estar só
e de tomar conta de si mesmo. Há quem se recuse a aventurar-se em projectos
pessoais por medo que não corra bem. Sonhos são engavetados e esquecidos.
Os
medos nem sempre são conscientes, ou seja, por vezes não nos sentimos ansiosos
nem a nossa barriga se aperta, mas usamos racionalizações para justificar
porque é que não saímos da nossa zona de conforto. Dizemos: “não me dá jeito”,
“não ligo muito a essas coisas”, “não me interessa”, “estou bem assim”, “não
quero assim tanto”. Por trás, inconscientemente, espreita a verdade escondida,
um medo que não nos deixa avançar e arriscar. O medo do erro, do fracasso, da
punição, da dor, do abandono, da solidão ou da morte, são angústias humanas que
condicionam muitas vezes o caminho que escolhemos. Ou que não escolhemos. O
medo leva-nos a fugir. Ficar quieto também é fugir. E fugir pode ser bom, se isso
nos proteger de um perigo, mas será mau se nos afastar de experiências e vivências
importantes. Há muitas perguntas para as quais não temos resposta. Irá correr
bem? Devo ir por aqui ou por ali? Estou a fazer as coisas da forma certa?
Pensar e questionar não é o problema, pelo contrário. O problema é quando o
medo das respostas não nos deixa abraçar as interrogações com coragem e, assim
sendo, por medo de viver, não vivemos de todo.
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