No dicionário, a definição de liberdade aponta para: “Direito ou
condição de alguém dispor de si, de fazer ou deixar de fazer alguma coisa.
Condição de homem livre. Independência.” É um conceito filosófico que norteia e
simultaneamente intriga a humanidade desde sempre por ser tão fácil perceber
que a ideia de liberdade tem limites e
limitações. O Homem que vive em sociedade sabe que não pode
ser absolutamente livre. Pelo menos no que respeita às normas de conduta e aos
deveres a que não pode fugir. São limites da realidade.
Então de novo olhamos para a filosofia, para
a psicologia e para a psicanálise que, abordando outros vértices da ideia de
liberdade, nos ensinam sobre a “liberdade de ser”. E ensinam-nos sobre ser
autêntico, ser espontâneo, ser eu mesmo independentemente da vontade dos
outros. Falam-nos da liberdade de não assumir uma identidade que não me
pertence unicamente para agradar ao(s) outro(s). Contam-nos sobre o poder de
encontrar a minha própria verdade, pois é a procura
da verdade que nos liberta (sejam verdades sobre nós, sobre os outros, ou sobre
o mundo). O caminho explica-nos que conhecimento é também liberdade. Querer
ser livre de saber e querer saber para ser livre.
Nesta linha, já Descartes dizia que age com mais liberdade quem melhor
compreende as alternativas que antecedem a escolha. E assim, só quem teve a
possibilidade de tactear os vários caminhos possíveis poderá escolher
livremente por onde seguir, quem ser e o que fazer da sua vida. Se sentirmos
que podemos traçar o caminho que quisermos, podemos escolher mais livremente,
de acordo com o nosso desejo. Só nosso. Por outro lado, quando somos
doutrinados desde cedo, quando alguém nos aponta sistematicamente o caminho,
não há outra verdade para além daquela que nos é injectada. Vejam-se os regimes
ditatoriais, que impregnam a mente alheia de dogmas que impedem os indivíduos
de escolher outras alternativas. Não concebem a possibilidade de poder ser,
pensar e fazer diferente. É a total ausência de liberdade. É o pensamento
escravizado logo desde que nasce e que bloqueia à partida toda a expansão da mente.
E perante todos os condicionamentos envolventes,
os limites tornam-se limitações. Estas, se não devidamente questionadas, podem
passar despercebidas toda uma vida. Padrões de funcionamento/pensamento
vincados em nós que nos dão a ilusão de sermos livres quando, em boa verdade,
somos escravos de nós mesmos, sem o sabermos. Portanto podemos dizer que nunca seremos totalmente livres enquanto a
causa/origem dos nossos comportamentos permanecer tantas vezes desconhecida.
São dados excluídos da consciência e aos quais só conseguimos ter acesso depois
de superadas determinadas defesas e resistências (também elas na maioria das
vezes inconscientes).
Contudo, a beleza de tudo isto é que estas
limitações são mais fáceis de ultrapassar do que os limites da realidade (que
nos ultrapassam). Só dependem de nós. Somos nós que nos amarramos a nós mesmos. E quanto mais e melhor conhecermos a nossa verdade
interior, menos escravos seremos dos nossos medos, das nossas crenças, dos
nossos bloqueios. Seremos mais livres dos nossos traumas e das nossas defesas.
E só assim se faz o caminho para uma maior liberdade de ser. Essa, uma vez conquistada, ninguém nos pode tirar. Será, no fim de
contas, a mais nossa, única, e a mais importante de todas.
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