ilustração de Justine Brax |
Foram-nos
dados cinco sentidos. Cinco instrumentos maravilhosos sem os quais seria muito
mais difícil relacionarmo-nos com o mundo. São, todos eles, ferramentas
relacionais e, sendo nós “animais relacionais”, quanto melhor usamos essas
ferramentas, mais integrados nos sentiremos. A pergunta que se coloca é: desses
cinco sentidos, com quantos verdadeiramente vivemos a nossa vida?
Olhamos,
mas olhar é diferente de ver. Ver é olhar com interesse e com presença. Estando
verdadeiramente ali. Observar os detalhes do mundo é uma forma de viver o
momento presente, retirando o foco da nossa atenção do passado e do futuro. Ver
o céu, o mar, as árvores. Ver as pessoas.
Precisamos
de escutar, que é diferente de ouvir. Escutar é ouvir com atenção, com
disponibilidade e com abertura de espírito. Parar de priorizar todas as
emoções, pensamentos, crenças e/ou preconceitos com que recebemos, a priori, tudo o que ouvimos. Tudo isso
que carregamos connosco satura-nos o espaço mental de tal forma que não somos
capazes de escutar mais nada. Para escutar é preciso ter espaço dentro de nós
para acolher aquilo que estamos a ouvir. Seja música, seja a palavra do outro
ou as nossas próprias palavras.
Precisamos
de usar bem o nosso tacto. Usá-lo para sentir, que é diferente de tocar. Somos
seres de pele, o órgão mais sensível que temos. Tocar as plantas, os animais, receber
essa energia que arrepia, sentir o frio e o calor, o suave e o áspero, que nos
produzem emoções distintas (ora agradáveis ora desagradáveis) mas que por isso
mesmo nos fazem sentir vivos. Sentir o outro. Abraçar.
Precisamos
de cheirar. O cheiro é armazenador e despoletador de memórias e, por isso, tão
relacional como todos os outros sentidos. Cheirar a terra molhada, a relva
cortada, as flores, o mar, o fumo dos carros ou das chaminés, o cabelo dos
nossos amores e as sardinhas assadas.
Também
precisamos de saborear, que é diferente de comer. Saborear é desfrutar, com
prazer. Sem pressa nem avidez. Com tranquilidade e presença. Saborear o
alimento ou saborear um beijo (que também alimenta).
E
eventualmente, se quisermos falar de um sexto sentido, talvez pensar que só se
possa desenvolver se usarmos em pleno os outros cinco. Se vivermos com
presença, com atenção e disponibilidade para o mundo – sabendo ver, escutar, sentir, cheirar e
saborear os momentos e as pessoas. Só assim podemos eventualmente aceder a
algum tipo de insight a que podemos,
então, chamar de intuição.
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