Num momento em que a prioridade é segurar o
mais possível a capacidade económica da estrutura familiar há frequentemente
uma diminuição acentuada da disponibilidade dos pais para os seus filhos, por
falta de tempo e/ou falta de paciência. Mas apesar das dificuldades serem reais, desde o início dos tempos que com menores ou maiores dificuldades sempre houve famílias mestras em pôr o afecto 'na mesa' em qualquer circunstância, pelo que a 'crise' nem sempre é desculpa. Assim, não custa lembrar que ser pai e ser mãe é profissão a
tempo inteiro e que cabe aos pais unir a família (o investimento é, primeiro, de pais para filhos), desenvolvendo os esforços
necessários para que os filhos usufruam a boa companhia dos pais e os pais da
companhia dos filhos.
Porque “perdemos” tanto tempo a falar e a pensar nas famílias
e nas crianças? Não é só porque as crianças de hoje são as mais protegidas de todos os tempos. É também porque hoje sabemos que pensar nas crianças é pensar na evolução da humanidade e
no que está para vir. Toda a saúde mental passa em primeiro lugar pela saúde
mental infantil. E no
que respeita às nossas crianças, esta higiene mental pratica-se em casa e na
escola. Sempre tendo em conta que, sem as condições emocionais minimamente satisfeitas (o que varia de caso para caso), não há possibilidade de uma boa integração e aprendizagem
na escola. Os preconceitos ditam, ainda, que muitos educadores (não todos!) pensem que as dificuldades
da criança na escola assentam em uma de duas hipóteses: incapacidade
intelectual ou preguiça do aluno. E num mundo cada vez mais competitivo é
tentador cair na ilusão de uma educação para o sucesso em detrimento de uma
educação para os afectos.
Que
se perceba que só uma árvore bem nutrida e enraizada em solo fértil dá os
melhores frutos. Uma alfabetização emocional antecede obrigatoriamente o
percurso académico. Para que as crianças integrem a leitura é necessário que
tenham tido a possibilidade de aprender a relacionar-se com o mundo, ligando
percepções, pensamentos e afectos, antes de aprender a ligar as letras. Ler à
nossa volta. Para aprenderem a fazer contas é preciso que possam “subtrair” e
“dividir” sem medo de ficarem sem nada ao sentirem que já têm pouco. Afecto,
atenção, disponibilidade.
Quando
os momentos em família se resumem a uma correria para o banho, trabalhos e
jantar, um dia após o outro, sobra pouco tempo para os laços familiares. O lazer em família deve ser
encarado com o mesmo respeito que qualquer outra tarefa do quotidiano. Porque
um passeio, um jogo de futebol, um desenho, andar de bicicleta ou um mero
ataque de cócegas de vez em quando dão força e entusiasmo às crianças para
crescer afectivamente mais estruturadas e esse é o único caminho para que mais
tarde possam enfrentar os obstáculos com a barriga cheia de amor, coragem e
confiança. As crianças precisam sentir que são importantes na vida dos seus
pais. O alimento para a alma é tão importante que todas as crianças prefeririam
passar mais tempo com os seus pais em detrimento de outros bens materiais. Uma
família unida por laços de afecto e pelo prazer em estar na companhia uns dos
outros será a força motriz para enfrentar tudo o que está para vir.
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