Não é raro encontrarmos pessoas incapazes de
mudar de opinião mesmo quando os factos mostram que estão enganadas. Outras
vezes, não é raro observar-se alguma dificuldade em assumi-lo, quando acontece.
Há quem lhe chame teimosia. No entanto, não usamos palas como os burros e,
assim sendo, não precisamos de olhar só em frente, podendo utilizar a visão
periférica para alargar perspectivas. Tristemente, mudar de opinião está muitas
vezes associado a incoerência e a falhas de carácter, contrariamente à citação
de Mário Quintana que originou o título desta reflexão. É encarado como falta
de personalidade. Como se a personalidade não fosse ela mesma construída ao
longo do tempo. Como se o certo fosse mantermo-nos rígidos e formatados do
princípio ao fim. Como se, desde o nascimento até à morte, a vida não fosse um
processo de transformação e evolução constante.
Quantos educaram os seus filhos de uma forma e
hoje gostariam de os ter educado de forma diferente? Quantos começaram a sua
vida com determinados ideais políticos e hoje pensam de outra forma? Quantos alteraram
as suas crenças religiosas com o passar do tempo? Quantos se envolveram em
projectos pessoais e desistiram ao perceber que não iriam a lado nenhum? Ainda
bem que assim acontece.
Perante evidências de que aquilo em que
acreditamos não nos conduz a bom porto ou já não faz sentido, não é inteligente
permanecer no engano. Os factos são soberanos e frequentemente chega a hora de
revermos até as nossas mais caras convicções.
O apego exagerado às ideias faz-nos portadores de mentes endurecidas e
cristalizadas. O pensamento é uma função plástica e pobre daquele que fica
confinado a uma crença eterna e inquestionável.
Por vezes, essa mudança de pensamento parece difícil
de concretizar. São demasiadas resistências. Do latim resistentia, que significa oposição, obstáculo, reacção ou defesa. De facto,
defendemo-nos da maioria das mudanças. Externas e internas. Persistimos com
frequência, até porque temos uma certa tendência à repetição. E o familiar é
sempre mais confortável que o desconhecido.
Viver é ter incertezas. Percebemos o quão difícil isto pode ser, pois ao
abandonarmos as nossas antigas convicções, perdemos o referencial que sempre
nos guiou. E nem sempre dispomos imediatamente de conceitos novos e mais
adequados, ou seja, por um tempo, conviveremos com dúvidas. Se isto não me faz
mais sentido então qual será o caminho?
Para
poder viver em paz com o permanente processo de aprimoramento e mudança é
preciso aceitar o convívio com as dúvidas e a angústia que elas causam. E posto
isso, felizes os que mudam de ideias, pois questionam o sentido das coisas e
pensam sobre o que lhes faz ou não sentido.
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