Pedir desculpa nem sempre é fácil. É que este
acto acarreta ramificações psicológicas que vão além da palavra em si. Embora
possamos justificar a relutância em pedir desculpa com orgulho, por norma há
uma dinâmica psicológica muito mais profunda e complexa.
Ao contrário do que parece, recusarmo-nos a pedir
desculpa não reflecte uma “personalidade forte” mas sim, pelo contrário, um esforço para nos
protegermos das nossas fragilidades e de angústias fundamentais (conscientes ou
inconscientes). Comecemos:
- Admitir que se fez algo errado pode ser sentido
como ameaçador quando se confunde acção
e carácter: como se aquilo que
fazemos definisse totalmente quem somos. Por exemplo, confundir um erro ou
uma negligência com estupidez ou ignorância. Nestas circunstâncias, quando
se pensa desta forma, as desculpas representam naturalmente uma grande
ameaça para o nosso sentido básico de identidade e auto-estima.
- Pedir desculpa pode abrir as portas ao sentimento
de culpa ou ao sentimento de vergonha. E enquanto a culpa faz-nos sentir
mal relativamente às nossas acções, a vergonha faz-nos sentir mal em relação
à nossa pessoa, o que faz dela uma emoção muito mais tóxica que a culpa. Mais
uma vez, encontramos aqui uma confusão entre acção e carácter.
- Embora o pedido de desculpa seja uma oportunidade
de resolver um conflito, quem não consegue fazê-lo normalmente receia o
inverso: que abra um precedente para outras acusações e mais conflitos. E
embora haja pessoas que efectivamente não aceitam o pedido de desculpa
como reparação, as pessoas mais saudáveis não utilizam um momento de
sinceridade e humildade para humilhar ou enxovalhar o outro, pois aí o
problema já não é de quem pede desculpa, mas sim de quem não sabe
aceitá-las.
- A dificuldade de pedir desculpa esconde ainda o
receio que fazê-lo signifique assumir a responsabilidade total do assunto
e libertar a outra parte do seu quinhão de responsabilidade. Aqui, há uma
confusão entre as partes e o todo. Uma história tem sempre dois lados e
cada um deve olhar para o seu.
- A recusa em pedir desculpa é, ainda, uma
forma de manter as emoções sob controlo. Há o receio que, ao “baixar a
guarda”, as defesas psicológicas se desmoronem e abram as portas a uma
cascata de sentimentos desconfortáveis. Mas a verdade é que, quanto mais
nos abrimos perante o outro, quanto mais honestos e autênticos formos,
mais saudáveis nos tornamos, e mais saudáveis as relações em nosso redor.
Viver de espada em riste é um tremendo cansaço e uma ardilosa armadilha.
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