Os tiques consistem na execução súbita
e involuntária de um movimento, de forma repetida. Vêem-se com muita frequência
em crianças, mas são também vulgares em adultos. Desde os cabelos aos dedos dos
pés, todo o corpo pode ser “usado” para a manifestação dos tiques. Os tiques do
rosto são os mais frequentes: piscar os olhos, franzir o nariz ou as
sobrancelhas, movimentos da língua ou do queixo. Há também tiques ao nível do
pescoço, braços, mãos, dedos e inclusivamente tiques respiratórios (fungar,
assoar-se, tossir, assobiar) ou fonatórios (estalar da língua, grunhidos). Na
maioria das vezes surgem com a entrada na idade escolar (6/7 anos).
O tique vem aliviar uma tensão, embora
o próprio tique seja, muitas vezes, causador de vergonha, culpa e mal-estar,
por não ser muito bem tolerado por nós e pelos outros. Isto só acontece quando
desconhecemos que o que importa verdadeiramente é perceber que o tique “fala”,
ou seja, tem um significado que não pode ser ignorado. É sinal de mal-estar. No
início, pode ser apenas uma reacção a uma ansiedade passageira e pode
desaparecer tão espontaneamente como surgiu. O que significa que a pessoa foi
capaz de ultrapassar algum conflito ou tensão interior. No entanto, no caso de
duração prolongada ou substituição recorrente de um tique por outros tiques, é
necessário uma abordagem mais aprofundada que permita entender o que corre mal
ao nível das emoções. Há algo dentro de si que a criança (ou adulto) não está
conseguir entender e/ou resolver.
Assim, a durabilidade do sintoma-tique
permite perceber que estamos já na presença de uma estrutura psicológica de
natureza ansiosa e não apenas de uma reacção pontual. Por vezes, os tiques representam
uma tentativa muito forte de autocontrolo destas emoções difíceis, mas como a
tarefa é árdua leva-nos a descarregar o peso de outra forma qualquer. Não é
raro que crianças/adultos com tiques manifestem perfeccionismo e rigor na sua
conduta. É que algo está aprisionado, mas precisa de sair. Algo está a ser
contido a elevado custo dentro de nós e clama por uma forma de ser expressado.
Não é tentando reprimir o tique que iremos resolvê-lo, muito pelo contrário. Já
há muita coisa a ser reprimida e daí aparece o tique. Há que olhá-lo como uma expressão
de ansiedade/conflito e tentar descobrir o seu significado simbólico que será, sempre,
variável consoante a história de vida de cada um de nós.
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