Tem estado na moda uma tendência ligeiramente omnipotente que
diz que temos tudo aquilo que pedimos. Diz que de cada vez que nos erguemos, o
Universo ergue-se connosco. Começou, talvez, com 'O Segredo' e proliferou como
cogumelos. É uma abordagem da vida
mais 'mágica', com forte ligação a correntes energéticas e espirituais. Se é
exactamente assim ou não, não posso saber ao certo. O que eu sei e concordo é
que somos, sim, imensamente maestros da nossa vida e que a sinfonia também vai,
sim, correndo segundo indicação da nossa batuta. E as teorias dizem: Pede
alegria, terás alegria. Pede sofrimento, terás sofrimento. Pois aqui entra a
psicanálise: o problema disto tudo é que nem sempre temos consciência daquilo
que andamos a pedir. Por exemplo, o conceito e fenómeno de 'compulsão à
repetição' diz-nos que apresentamos uma tendência inconsciente para o regresso
às situações traumáticas da nossa vida, como tentativa de as resolver
internamente/emocionalmente. Como se quiséssemos corrigir uma experiência
passada. Não damos por isso. São coisas que se passam aquém da nossa
consciência. Não é algo que esteja sujeito a racionalização. Só quando, a dada
altura, em vez de nos queixarmos do nosso eterno azar (também lhe chamamos
karma), nos sai da boca ou do pensamento algo do género:
— "Porque é que me rodeio sempre das pessoas erradas?"
— "Porque é que me rodeio sempre das pessoas erradas?"
Ou então pensamos,
— "Se eu quero tanto ser independente porque é que continuo a depender dos outros?"
Ou ainda,
— " Se eu quero tanto ter uma relação sólida porque é que não consigo manter um relacionamento?"
Este é o primeiro passo em direcção à tomada de posse na nossa vida. Ou seja, enquanto não nos apercebermos que estamos presos a um padrão de funcionamento, queremos conscientemente ser felizes mas estamos inconscientemente a retornar ao lugar da dor. Enquanto maestros das nossas vidas, o nosso trabalho é questionar porque é que a orquestra está desafinada. Porque é que certas coisas nos acontecem. Com responsabilidade. Com coragem. É um dos trabalhos em psicoterapia e em psicanálise. Trazer à luz o que está no escuro. Somos, de facto, muito responsáveis. Muito mais responsáveis que o azar ou a sorte. Se calhar temos realmente o que pedimos. Então a questão que fica é: saberemos realmente o que andamos a pedir?
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