Olha, vou começar! Espero que gostes! Era uma vez uma menina
chamada Olívia que vivia num grande palácio. Ela não era uma princesa mas era
uma menina muito rica, filha de uns pais muito ricos. No palácio havia todos os
luxos possíveis e imaginários e a
Olívia passava os seus dias entre cortinados de cetim e porcelanas chinesas,
escondendo-se e encontrando-se atrás de todos os objectos que pudessem servir
de esconderijo. Sim, não me interrompas, ela é que se encontrava a ela própria
porque não havia ninguém à procura dela! Deixa-me continuar a história. Um dia
a Olívia cansou-se de se procurar a si mesma e começou a criar teatros de
marionetas. Havia três personagens, três colheres de pau roubadas da grande
cozinha e transformadas no pescador, na mulher do pescador e na filha do
pescador. Mas a Olívia só tinha duas mãos para as três colheres de pau e a
plateia dos seus espectáculos (todos os bonecos que tinha) não era muito
participativa e também isso acabou por perder a graça. Por esta altura, a
Olívia descobriu os livros. Os livros tornaram-se a sua terceira grande
companhia. Pelas histórias dos outros a Olívia integrou a sua própria história
e coloriu os espaços em branco que ia encontrando. Sim, a Olívia assim não se
sentia só. Xiu, deixa-me continuar. Foi assim que a Olívia foi crescendo,
graças à sua capacidade de criar e colorir o seu próprio mundo, tão fisicamente
despido e tão simbolicamente rico. Foi assim que foi crescendo até poder
descobrir o mundo. Até perceber que fora do grande palácio existia um sem fim
de possibilidades e de plateias e de olhos interessados em si. E foi quando se
tornou mais parte do mundo que se sentiu mais zangada. Não, não é nada
estúpido. Foi porque cá fora começou a comparar a vida no palácio com outras vidas
e as pessoas do palácio com outras pessoas e percebeu que tinha perdido coisas
importantes pelo caminho, não te parece evidente? Desculpa, não queria ser
rude. Tomara eu que me fizessem tantas perguntas como tu fazes e que se
interessassem tanto como tu te interessas. Não, claro que não estávamos a falar
de mim, estávamos a falar da Olívia! Eu só estou a contar uma história!
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