Dominados pelo egocentrismo, característica daquele que está centrado em si e no seu ponto de vista, e pela omnipotência, crença de que se pode tudo, na infância e ainda na adolescência temos muitas certezas. Quantos pais já tentaram falar com os filhos recebendo em troca um “Eu é que sei!”? Essas certezas são, nessa altura, protectoras: fonte de segurança e de estabilidade necessárias ao crescimento tranquilo, dada a ainda frágil estrutura emocional de uma criança. Pressupõe-se, no entanto, que uma das tarefas da adolescência é precisamente começar a pôr em causa muitas dessas certezas, o que explica parte da instabilidade emocional
vivida nesta fase. Tudo o que era certo e seguro, começa a ser questionado, se bem que, para que isso aconteça, é necessário haver uma estrutura interna minimamente sólida, capaz de aguentar o embate com a realidade cada vez mais óbvia, e que não descompense ao questionar o mundo (externo e interno). Chegando à idade
adulta, devemos então ser capazes de assumir que pouco ou nada sabemos que seja
absolutamente certo. Temos as nossas crenças, mas crer é diferente de saber.
Acreditar nas coisas e em nós é importante, mas a crença deve permitir que haja
espaço para que seja questionada ou revista. Assim, a ordem natural do
crescimento emocional e do desenvolvimento psíquico é que possamos ir
flexibilizando o nosso pensamento de forma a ponderar as nossas certezas e
estar disponíveis para aprender com os outros.
No
entanto, nem sempre as coisas acontecem assim. Por vezes, os adultos têm tantas
ou mais certezas absolutas do que as crianças. Acham-se frequentemente os donos
da verdade. E demonstram uma certa tendência tirânica para achar que a sua
verdade é a verdade universal. Seja em valores pessoais, políticos ou
religiosos, é fácil encontrar pessoas cuja posição perante a vida e os outros
não permite qualquer discussão. A
certeza é a base do fundamentalismo. Em nome das
certezas absolutas foram cometidos alguns dos crimes mais sangrentos da nossa
história: elas são o fundamento de todo fanatismo. A
certeza de que se está na posse da verdade absoluta revela um modo de pensar
rígido e pouco reflexivo, pois se já sabemos a verdade, não precisamos
reflectir mais sobre o assunto. Problema resolvido.
Então, ao contrário do que tantas vezes parece, a certeza é irmã da insegurança, ou seja, quanto mais
inseguros somos, maior a necessidade de estarmos certos. Seja a respeito de que assunto for. É a incapacidade de
tolerar as dúvidas que nos conduz aos dogmas. Claro que a existência parecerá muito mais segura
se estivermos convictos de saber as respostas a todas as perguntas, mas isso não corresponde à realidade, muito menos pertence à esfera do pensamento maduro. Sócrates disse-nos, com toda a sabedoria: “só sei que nada sei”. Reduzamo-nos à nossa humilde insignificância e aceitemos que a única forma de atingir
o conhecimento é manter a mente aberta e um espírito interrogativo.
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