(...)
A principal mentira do poder é que o poder, em geral, serve para pouco: bazófias, espectáculo e corrupção.
Senão, vejamos:
A maioria das vezes, o poder é uma defesa; ou melhor, uma vicarância: substitui a falha ou falência de outros sistemas ou funções. Assim, o poder defende do medo, troca a insuficiência do ser pela aquisição do ter, engana a dor mental, é vicário da debilidade amorosa.
O poder é filho bastardo da obsessão; e a posse, do ciúme. E descendente legítimo da paranóia e da inveja.
A incompletude narcísica é a mãe “biológica” da megalomania; e adoptiva da ambição desmedida.
O narcisista puxa o brilho porque o cabedal não presta (...) A vicariância pelo poder é atributo da pusilanimidade – a alma pequena precisa de estacas que a sustentem e lanças para se proteger; é a “psicologia do ouriço”.
É que afinal o poder não dá força – força da alma, coragem; apenas estatuto – uma pseudo-força de empréstimo (...) "
António Coimbra de Matos (in O poder da mentira e a mentira do poder)
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