Transformação é a palavra-chave. Na vida ou há desenvolvimento ou instala-se a decadência. O estacionamento é uma ilusão. Nas palavras de Cervantes, “A estrada é sempre melhor que a estalagem” (António Coimbra de Matos)
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Elogio da sombra
A velhice (tal é o nome que os outros lhe dão)
pode ser o tempo de nossa felicidade.
O animal morreu ou quase morreu.
Restam o homem e sua alma.
Vivo entre formas luminosas e vagas
que não são ainda a escuridão.
Buenos Aires,
que antes se espalhava em subúrbios
em direção à planície incessante,
voltou a ser La Recoleta, o Retiro,
as imprecisas ruas do Once
e as precárias casas velhas
que ainda chamamos o Sul.
Sempre em minha vida foram demasiadas as coisas;
Demócrito de Abdera arrancou os próprios olhos para pensar;
o tempo foi meu Demócrito.
Esta penumbra é lenta e não dói;
flui por um manso declive
e se parece à eternidade.
Meus amigos não têm rosto,
as mulheres são aquilo que foram há tantos anos,
as esquinas podem ser outras,
não há letras nas páginas dos livros.
Tudo isso deveria atemorizar-me,
mas é um deleite, um retorno.
Das gerações dos textos que há na terra
só terei lido uns poucos,
os que continuo lendo na memória,
lendo e transformando.
Do Sul, do Leste, do Oeste, do Norte
convergem os caminhos que me trouxeram
a meu secreto centro.
Esses caminhos foram ecos e passos,
mulheres, homens, agonias, ressurreições,
dias e noites,
entressonhos e sonhos,
cada ínfimo instante do ontem
e dos ontens do mundo,
a firme espada do dinamarquês e a lua do persa,
os atos dos mortos,
o compartilhado amor, as palavras,
Emerson e a neve e tantas coisas.
Agora posso esquecê-las. Chego a meu centro,
a minha álgebra e minha chave,
a meu espelho.
Breve saberei quem sou.
pode ser o tempo de nossa felicidade.
O animal morreu ou quase morreu.
Restam o homem e sua alma.
Vivo entre formas luminosas e vagas
que não são ainda a escuridão.
Buenos Aires,
que antes se espalhava em subúrbios
em direção à planície incessante,
voltou a ser La Recoleta, o Retiro,
as imprecisas ruas do Once
e as precárias casas velhas
que ainda chamamos o Sul.
Sempre em minha vida foram demasiadas as coisas;
Demócrito de Abdera arrancou os próprios olhos para pensar;
o tempo foi meu Demócrito.
Esta penumbra é lenta e não dói;
flui por um manso declive
e se parece à eternidade.
Meus amigos não têm rosto,
as mulheres são aquilo que foram há tantos anos,
as esquinas podem ser outras,
não há letras nas páginas dos livros.
Tudo isso deveria atemorizar-me,
mas é um deleite, um retorno.
Das gerações dos textos que há na terra
só terei lido uns poucos,
os que continuo lendo na memória,
lendo e transformando.
Do Sul, do Leste, do Oeste, do Norte
convergem os caminhos que me trouxeram
a meu secreto centro.
Esses caminhos foram ecos e passos,
mulheres, homens, agonias, ressurreições,
dias e noites,
entressonhos e sonhos,
cada ínfimo instante do ontem
e dos ontens do mundo,
a firme espada do dinamarquês e a lua do persa,
os atos dos mortos,
o compartilhado amor, as palavras,
Emerson e a neve e tantas coisas.
Agora posso esquecê-las. Chego a meu centro,
a minha álgebra e minha chave,
a meu espelho.
Breve saberei quem sou.
Jorge Luis Borges
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Brinca comigo
É transversal a todas as
culturas, a imagem da criança que brinca. Brincar é muito mais do que uma mera distracção
ou entretenimento. É a forma privilegiada de expressão emocional e, mais ainda,
uma tarefa de desenvolvimento que permite o treino de competências de todas as
ordens (fisicas, sociais, emocionais, cognitivas). Brincar é um trabalho
fundamental para que se tenha mais sucesso na adaptação posterior à realidade. Freud
foi pioneiro ao propor uma compreensão do brincar. Dizia então que o sonho era
o caminho real para o inconsciente do adulto e que o brinquedo era o caminho
real para o inconsciente da criança. Melanie Klein, a partir dos estudos de
Freud, aprofundou o significado da actividade lúdica para a criança, elaborando
um corpo de conhecimentos, teóricos e práticos, sobre o entendimento e o uso do
brinquedo como recurso terapêutico e de desenvolvimento da criança. Piaget, já
mais tarde, destacou três períodos na evolução do brincar, um primeiro período onde
se brinca com o corpo (num exercício sensório-motor), um segundo período em que
o brincar se torna simbólico (recorrendo a símbolos, uma criança desenvolve a
capacidade de fantasiar e fazer-de-conta, tão fundamental) e, um terceiro
período, dominado pelos jogos de regras, em que se brincam os limites e as
obrigações comuns, criadas e cumpridas em grupo. Haverá momentos em que
brincará a sós, num recolhimento essencial e em relação consigo, outros em que
brincará acompanhada, em relação com os outros.
Brincar é uma experiência
criativa. Brincando, a criança é soberana, colocando a realidade à disposição
das suas fantasias. O brincar é lúdico e, ao mesmo tempo, uma coisa séria. É
muito engraçado observar a concentração com que uma criança é capaz de brincar
e quão importantes são todos os contornos das suas brincadeiras. Uma criança
que não brinca está (ou foi), por algum motivo, impedida de um acto instintivo
e primordial.
O desenvolvimento infantil espelha-se
no brincar. A criança, quando brinca, coloca o seu mundo interno na
brincadeira, brincando as suas aquisições, as suas ansiedades, brincando também
as suas zangas e a sua agressividade. Repete e elabora experiências emocionais importantes
através da brincadeira. O desenho, uma forma particular de brincar, é mais um
espelho do mundo interno da criança. Enquanto pequenos, os pensamentos e as
emoções são mais facilmente comunicados pelo traço do que pela palavra (porque a
evolução corpo à mente leva o seu tempo).
Naturalmente, é, assim, o meio
privilegiado de contactar com a criança e entrar no seu mundo privado.
Observando o brincar, brincando com ela e dando um sentido à brincadeira. Como
disse Winnicott (1971), “ é preciso não esquecer que brincar é uma terapia em
si”.
sábado, 6 de agosto de 2011
Pedrinha (Do paradigma relacional)
O paradigma actual, na física como na psicologia, não é o dos corpos ou entidades mas o das relações. A matéria existe em relação com outras matérias.
António Coimbra de Matos
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
Pedrinha (Do que eu sou)
O importante é aquilo que eu sou para mim próprio. O que eu sou. O que eu fui. Ou serei. O que é que queres ser? O importante é sermos autênticos. É isso que nos faz ser únicos. Somos incutidos a ser milhões de coisas mas só somos aquilo que realmente queremos. Eu sou o que eu dou. Eu dou o que eu sou. (...) Eu sou o que eu sou.
Sam the Kid (O que eu sou)
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