No princípio são três, mãe, pai e filho. O acto de conceber
um filho é da responsabilidade de dois indivíduos e parece que há uma boa razão
para que assim seja, fundamentalmente na espécie humana, a mais complexa de
todas. Embora hoje muitas crianças cresçam na realidade da monoparentalidade, a
investigação psicológica tem demonstrado, de há algumas décadas para cá, a
necessidade absoluta e presença insubstituível da figura paterna.
Como se sabe, o nosso equilíbrio emocional e bem-estar psicológico
estão completamente relacionados com a qualidade da relação primária, nome
atribuído à relação entre mãe e filho, que começa logo durante a gravidez. É
esta ligação primordial que nos dá as ferramentas internas para descobrirmos
quem somos e conduzirmos a nossa vida com entusiasmo, segurança e responsabilidade.
É nessa relação que ganhamos (ou não) o embalo para acreditar, projectar e
realizar, bem como para ultrapassar as dores e os dissabores que encontramos
pelo caminho.
Contudo, o pai junta-se à díade mãe-filho com uma função
igualmente importante para a estruturação psíquica da criança. De certa forma, inicialmente
o pai representa a primeira “frustração” introduzida na vida de uma criança: o
pai é aquele que “impede” que o filho tenha a mãe exclusivamente para si. Experiência
dolorosa, esta, mas necessária para um desenvolvimento saudável. Embora sem
essa intenção, um pai permite e prepara, assim, a separação e a autonomia da
criança, evitando uma fusão (que não é suposta) entre mãe e filho. Tem uma
função separadora mas, ao mesmo tempo, estruturante.
Não fica por aqui, a questão da função paterna. Tal como a
mãe, o pai desempenha, também, um importante papel nas interacções com o filho,
estimulando e atendendo às suas necessidades básicas (afecto, segurança,
alimentação, higiene, brincar e aprender). Alternando com a mãe nestes
cuidados, permite à criança conhecer, desde cedo, dois diferentes modelos de
relação, um com o pai e outro com a mãe. E nós, espécie inteligente, rapidamente
começamos a guardar connosco o melhor de cada um.
Depois, o pai enriquece a identidade de género dos seus
filhos, apresentando-se como modelo de admiração ao seu filho-homem e narcisa a
feminilidade da sua menina-mulher. Mais. Pai e mãe são o primeiro e mais
importante modelo de uma relação amorosa. É através das discórdias entre pai e
mãe (se acontecem com respeito e sem depreciação um do outro) que se enriquece
a mente da criança, oferecendo-lhe múltiplas perspectivas da realidade. Se o
casal lida bem com essas “discussões”, mostra à criança que com liberdade se
pode amar alguém que pode ser e pensar de forma diferente de nós.
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