Os presentes no Natal fazem
parte da nossa cultura. São símbolos de afecto e de pertença, possivelmente associados
ao gesto dos Reis Magos, acarretando uma tradição de celebração da família. Mas
ao longo dos tempos o ritual acabou confundido e contaminado por fortíssimos
apelos ao consumo.
Se isto é verdade entre
adultos, mais confuso é para as crianças, obrigando-nos a estar atentos ao que
se passa dentro delas e ao que lhes estamos a transmitir, enquanto modelo para
a vida. A criança, cada vez mais exposta ao meio consumista, vai expressando o
seu desejo de receber um certo presente, mas cabe-nos a nós ter a sensibilidade
de decifrar se o que é pedido é realmente uma escolha sua, algo que lhe trará
verdadeira satisfação, ou uma imposição/influência do ambiente envolvente
(media, grupo de pares, etc.). Ou seja, é importante perceber qual a real
motivação da criança quando pede determinado presente.
O que acontece frequentemente
é que a criança nem sempre pede um presente que seja verdadeiramente importante
para si. Repare-se que não é invulgar a criança ir mudando de ideia a cada anúncio
que passa na televisão, ou mesmo consoante aquilo que alguns amigos pediram
como presente. Mas esta dúvida é, na verdade, uma falsa dúvida. É fruto do
bombardeamento de informações que ela não tem maturidade emocional para gerir,
ou fruto da dificuldade em se conhecer a si mesma e aos seus desejos, imitando
os outros em alternativa. O que acontece depois é que, ao receber o presente, percebe
que afinal não o queria, e este acaba por ser posto de lado.
O melhor presente de Natal
(ou de outra coisa qualquer) é um presente que vai ao encontro do desejo autêntico
da criança e, em geral, esse desejo
está relacionado com os seus afectos mais íntimos e com a sua fase de
crescimento (e respectivos desafios). Assim, um menino que tem vários medos
pode pedir um conjunto de tanques e soldadinhos, uma menina que começou a montar
a cavalo pode pedir uma boneca cavaleira, ou uma criança que acha que ser
cientista pode pedir um microscópio. O exemplo não importa, mas ilustra que, em
todos os casos, o valor do presente em questão, para a criança, não é aleatório,
nem financeiro (pedir o presente mais caro), nem uma imitação, mas sim emocional.
Diz respeito às suas vivências: sejam medos, descobertas ou desejos. Isso é o
que deve conter num presente. O desejo deve ser o desejo da criança e não o
desejo do mercado ou de quem lhe dá um presente (ex: quero que o meu filho seja
médico portanto vou oferecer-lhe um estojo médico).
E se, no fim de tudo isto, o
presente não é possível por qualquer razão, basta dizer à criança sobre a
impossibilidade real de oferecer aquele presente. A vida é feita de limitações
e são esses limites que nos ensinam a esperar e que nos permitem sonhar e
desejar.
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