Há pessoas que são como cascatas.
Atiram-se ao mundo, fazem barulho, e exteriorizam muito. A sua energia está
mais dirigida para fora do que para dentro. São pessoas extremamente comunicativas
e activas, que expressam com facilidade as suas opiniões e tentam impor suas
ideias. São vivaças, ruidosas, expansivas. Fazem propaganda com facilidade.
Outras pessoas são como serenos ribeiros. Apresentam uma intensidade diferente
na forma de estar e de viver. São minimamente sociáveis mas gostam mais de
ouvir do que falar. São mais contidas e mais introspectivas. Não buscam
aparecer. Todo o seu corpo fala mais baixinho. Podemos dizer que o primeiro
tipo tende mais para a acção, e o segundo, para a contemplação.
Vendo por outro prisma, do lado mais
expansivo há, por vezes, o perigo de carência de vida interior, de profundidade
e de capacidade de pensar. A pessoa pode agir demais e elaborar pouco, adquirindo
pouca consciência de si. Ao querer impor-se demasiado nem sempre escuta o outro
e o mundo. Do outro lado, mais recatado, há o perigo de nos tornarmos um poço
de águas paradas, há o risco de estagnação. O excesso de introversão pode resvalar
para a ruminação ou para o isolamento. Podem mesmo existir sérias dificuldades
de expressão e, consequentemente, de afirmação e de capacidade de criar (pela
acção).
Contudo, uma vez que na actualidade o agir
predomina sobre o contemplar, a falta de reflexividade é o risco mais iminente.
A maioria das pessoas, engolidas por um mundo de solicitações constantes do
exterior, têm pouco tempo, espaço e disponibilidade para olhar para dentro. Muitos, principalmente nas gerações mais novas, já não são educados para isso nem sabem como
fazê-lo. No entanto, é fundamental serenar para ganhar perspectiva das coisas.
De nós e da vida que levamos. Pede-se hoje iniciativa, empreendedorismo, mas o agir sem reflexão
prévia não será o melhor caminho. É sempre preciso desconfundir acção e impulso para não embarcarmos numa "fuga para a frente", ou seja, num agir para não pensar.
Por isso, é
importante abandonar o bulício urbano por um dia que seja. Encontrar um porto
de abrigo e reparar como longe do ruído é mais fácil ganhar visão e escutar o
que diz a alma. O objectivo não é permanecer na contemplação, mas sim
utilizá-la como trampolim para a acção, uma acção mais verdadeira. Dentro de nós há sempre um anseio pelo equilíbrio. Queremos dar
e receber, comunicar e compreender, conseguir agir, poder sentir e saber
pensar. Precisamos de uma vida interior rica mas ao mesmo tempo queremos ser
capazes de realizar algo que outras pessoas possam reconhecer e receber. Passar
a vida a agir sem pensar ou passar vida a pensar sem agir são os dois extremos
que devemos, a todo custo, evitar.
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