Meeting around a baguette (Paris, 1950) — Fotografia de Raymond Prunin |
Transformação é a palavra-chave. Na vida ou há desenvolvimento ou instala-se a decadência. O estacionamento é uma ilusão. Nas palavras de Cervantes, “A estrada é sempre melhor que a estalagem” (António Coimbra de Matos)
domingo, 31 de janeiro de 2016
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
Intervalo de Vinte Minutos Para Sonhar
Perante
a força esmagadora desses desafios do mundo concreto, não podemos perder de
vista a importância de um espaço que nos ajude a pensar e a sonhar. Esse espaço
cria-se, nas sociedades, através das artes, da cultura e da educação — universo sensível. Esse universo sensível é também
algo que liga as pessoas, na medida em que está muito enraizado na tradição
europeia e é, de certa forma, uma identidade: pertencemos a um continente-berço
de pensadores e de fortes movimentos artísticos e culturais. É também uma
força: em tempos de fractura, tudo o que promova a coesão e a integração é de
preservar.
Embora
o nosso país seja hoje mais alfabetizado do que há muitos anos atrás e o acesso
às artes e à cultura seja hoje feito sem censuras ou grandes limitações, há uma
espécie de anestesia generalizada no que trata a políticas de apoio e
crescimento nestas áreas. E um país que não investe na arte e na cultura é um
país que embrutecerá rapidamente. Ali não frutificarão novas ideias, pois a
criatividade é abortada à nascença, com os habitantes adormecidos entre
extratos bancários e folhas de cálculo. O ser humano não vive só de números mas
também de sonho. É fácil cair na tentação de colocar as artes e a cultura num
plano secundário: o que importa é pagar as contas e ter comida na mesa. Porém, se
não se despertam os sentidos, a alma definha. As artes e a cultura são o
alimento do espírito de um povo: para além da possibilidade de se maravilhar, é
nesse espaço de sonho que podem surgir pensamentos críticos. É, como diria Raul
Brandão, um “intervalo de vinte minutos para sonhar”.
As
artes e a cultura, seja sob a forma de música, de pintura, de literatura, de
cinema, de teatro ou de qualquer outra manifestação de criatividade, são porta
de entrada do pensamento divergente, e assim o mundo “pulula e avança”. Ao
mesmo tempo, permite um certo encantamento que nos distrai da realidade, por
vezes tão dura. Sobre isso já Nietzsche dizia que “temos a arte para não morrer
da verdade”. De facto, lemos as notícias ou ouvimos os telejornais e somos
imediatamente sufocados com doses maciças de realidade. Não precisamos nem
devemos fugir da realidade, ou seja, não se trata de oferecer “circo e bolos
para enganar os tolos”, trata-se sim de reservar espaço na nossa mente para
aquilo que é belo: seja lá o que isso for para cada um de nós.
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terça-feira, 5 de janeiro de 2016
Confiabilidade
Todos os seres humanos são dotados de uma
tendência inata ao desenvolvimento/crescimento. Mas, embora inata, a tendência
por si só não basta, nem a mera passagem do tempo. Trata-se de uma tendência
mas não de uma determinação, ou seja, as coisas não acontecem necessariamente
assim. Para que essa tendência venha a realizar-se, dependemos, antes de mais
nada, de um ambiente facilitador e promotor do bom desenvolvimento nos
primeiros anos das nossas vidas. Para além do amor, alimento mais básico, há a
necessidade de um ambiente seguro, que é como quem diz: confiabilidade.
Confiabilidade é uma dessas coisas que valem ouro.
Dizemos que uma pessoa é confiável quando sabemos que é possível contar com
ela. Quando uma pessoa é confiável acreditamos que fará o que lhe compete, o
que prometeu e aquilo com que se comprometeu. E sabemos que não fará mau uso do
que lhe confiamos (seja um segredo, uma tarefa ou a nossa própria vida). A
confiabilidade implica também uma certa previsibilidade: uma coerência que não
abala à mais pequena brisa. É destas pessoas e deste ambiente que precisamos
para nos sentirmos seguros e podermos dar asas ao nosso potencial de expansão.
E precisamos tanto mais disto, quanto mais dependentes somos (ou estamos). É
por isso que a confiabilidade adquire uma importância vital no início das
nossas vidas: Quais as primeiras marcas que o mundo deixa em nós? É um local
seguro ou assustador?
É que é preciso perceber que o bebé humano, ao
contrário do bebé animal, vem ao mundo com uma certa prematuridade, sendo
“lançado às feras” muito antes de poder ser minimamente autónomo. Então, pobres
de nós que estamos à mercê do outro se o outro não for confiável — se
não sabemos o que esperar, se não sabemos com o que contar. Há ambientes
que deixam o bebé entregue à imprevisibilidade. Há ambientes que deixam os
bebés assim inseguros, e portanto, entregues aos seus próprios recursos, ainda
tão parcos: nesses casos, a criança experienciará vivências de desamparo, por
vezes da ordem do insuportável. Se a criança nunca sabe se pode contar com a
resposta adequada no momento adequado, e se isso exceder o que é capaz de
suportar, a sensação será da ordem do aniquilamento. Naturalmente, embora
a vida prossiga o seu rumo, na melhor das hipóteses não escaparemos de uma
existência cheia de ansiedade e angústias. Teremos que nos organizar para
subsistir sozinhos pois não pudemos contar com o meio que nos envolveu. O
perigo incide, sobretudo, se este for o cenário recorrente: uma criança que
está sistematicamente entregue a si mesma pode ver o seu desenvolvimento
severamente comprometido.
Para nos podermos
dedicar às nossas tarefas de crescimento e de exploração do mundo, não podemos
estar preocupados com o que nos pode acontecer. Precisamos de confiar, pela
repetição de experiências positivas, que haja o que houver, a dormir ou
acordados, o mundo olha por nós, acompanha as nossas necessidades, e permanece
presente, vivo, atento, disponível e confiável. Se tudo correr bem, a autonomia
conquistar-se-á sem medos e enfrentaremos a vida com confiança. A confiança
nasce dentro de quem, desde sempre, pôde confiar.
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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
Terapia
O ano começa com uma estreia interessante: Terapia, na RTP1, uma adaptação portuguesa de uma série israelita (que chegou ao grande público principalmente após a versão da HBO, In Treatment). Todos os dias, uma sessão por dia. O dos EUA tinha muita qualidade técnica e artística e esperemos que o nosso não fique atrás. Bom ano!
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