Verdades esperam-nos, serenamente, ao longo do
caminho. Não têm a nossa urgência e por isso deixam-se estar, sabendo que tudo
tem um tempo mesmo que esse tempo nos pareça fora de tempo. O nosso tempo é
diferente do tempo do Universo. Não se sabe muito bem porquê mas é, quase
sempre, assim. Pois então que tarde, mas que chegue, por fim, essa coisa da
verdade. Outras vezes ela já se tinha mostrado, em sinais de fumo à beira da estrada, mas nós, distraidamente
ou propositadamente, não vemos. Aí o problema da verdade já não é o tempo que
ela demora mas sim a nossa dificuldade de olhar de frente para ela. Pois então
que se olhe tarde, mas que se olhe, por fim, para essa coisa da verdade.
É que como dizia Thoreau, pensador do séc. XIX: “Mais do que amor, do que dinheiro, do que fama, dêem-me a
verdade”. E à semelhança de Thoreau, também a psicoterapia e a
psicanálise (assim como outras disciplinas que abordam o desenvolvimento
pessoal) colocam a verdade acima de todas as outras coisas. Se algo não assenta em
verdade, não tem validade. De pouco nos serve um amor se este não é sincero: amor
de aparências, amor conformado, exigido ou manipulado, não nos preenche, não
nos satisfaz. De pouco nos serve dinheiro se não nos permite viver honestamente:
se nos faz viver no medo ou na ilusão da nossa competência. De pouco nos serve
a fama que não derive da autenticidade: se o reconhecimento nos chega através
de uma falsidade, de uma artimanha ou “personagem”, sentiremos sempre o vazio
dessa ficção, de uma história que não é nossa, e sentir-nos-emos sempre pouco
amados na nossa essência.
Porém, a
espécie humana prefere muitas vezes a superficialidade, preferindo mentiras
confortáveis à profundeza da verdade. Mentiras confortáveis sobre a vida, sobre
os outros e sobre nós mesmos. As verdades nem sempre nos confortam, pelo
contrário, obrigam-nos a mexer: obrigam-nos a olhar as falhas, a trabalhar
mais, a continuar à procura, a perder coisas e a seguir em frente. As verdades
doem porque fazem crescer, mas se crescer dói, não crescer mata. Viver na
mentira, principalmente a interna, mata a vida psíquica porque viver de forma
não genuína é o mesmo que não viver, é simular uma vida. É no encontro connosco
próprios, na nossa verdade, que se constrói o único caminho que nos realiza, e
que assegura que um dia mais tarde, sintamos a paz de ter existido de forma
real neste mundo.
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