O
conto do elefante acorrentado, de Jorge Bucay, faz-nos pensar acerca dos
conceitos de liberdade e de submissão/obediência. Lembra-nos que, na tradição
dos espectáculos circenses, o elefante, animal de
grande porte e muita força, permanece preso, antes da sua entrada em cena, amarrado
por uma corrente e por uma estaca no solo. Uma vez que uma estaca não passa de
um pequeno pedaço de madeira, e que a força da corrente não se compara à força
do animal, percebemos que não será essa a verdadeira razão que mantém o
elefante amarrado a uma vida de obediência e subserviência. Porque não foge
então o elefante?
O condicionamento do elefante tem raízes profundas. O narrador
conta-nos que descobriu que o elefante não foge porque desde pequeno que está
amarrado à estaca. E imagina, então, o pequeno elefante, tentando soltar-se de
uma estaca e de uma corrente que, nessa altura, seriam demasiado fortes para
si. Assim, chega um dia em que o pequeno elefante fica verdadeiramente amarrado
— pelo corpo e, sobretudo, pelo
pensamento. É o dia em que desiste, o dia em que acredita que
não é capaz, o dia em que aceita que o seu destino é permanecer preso. E sem
sonhar que as circunstâncias mudam, pois ainda não tem experiência que o
ensine, jamais volta a colocar à prova a sua capacidade e a sua força. Deixa-se
estar.
O elefante não foge porque não sabe que é capaz de o fazer. E isto
funciona como uma perfeita metáfora para aquilo que tantas vezes aconteces nas
nossas vidas: as incapacidades assumidas, as incompetências declaradas, as
dificuldades percebidas, os desmerecimentos repetidos. Muitas delas são
resquícios de dificuldades precoces que hoje seriam perfeitamente ultrapassáveis.
Ou porque, em pequenos, tentámos fazer valer os nossos desejos, sem sucesso; ou
porque alguém nos fez interiorizar, repetidamente, que não seríamos capazes ou
que não merecíamos melhor; ou porque ouvimos “nãos” que acorrentaram todas as
possibilidades. Todos esses impedimentos atrofiam-nos e são interiorizados como
limitações que nem sempre correspondem à realidade. As verdadeiras correntes
são as do pensamento: tudo o que nos disseram que não podíamos ser, que não
podíamos ter ou que não podíamos, sequer, sonhar.
Há
muita coisa que não está acessível ou que pode não ser alcançável. A ideia de
que não há limites para o que podemos fazer é irrealista e omnipotente. Há
limites, mas talvez não sejam tantos nem tão redutores quantos nos fizeram
crer. Talvez o elefante não possa chegar à Lua mas não precisa de ficar
amarrado àquela pequena corrente ou estaca: pode ir conhecer o mundo e
descobrir um outro lugar onde lhe seja permitido ser livre e, necessariamente,
mais feliz.
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