Não
se aprende sozinho nem de repente a ser aquilo que nunca fomos. Não se aprende por
instinto a sentir essa espécie de paz/felicidade que nunca foi sentida. É algo que
nos é estranho. Mesmo quando ao nosso redor se encontram circunstâncias
felizes, podemos “preferir”, inconscientemente, a familiaridade da melancolia
ou da depressividade. Podemos não conseguir sair desse lugar que tão bem
conhecemos. Podemos não nos permitir sequer tentar. No fim de contas, querendo
ou não, são sempre as nossas amarras internas que nos limitam.
“Os
meus estados deprimidos ainda me seduzem e fazem falta para me sentir
preenchida por dentro. Ainda confio nas minhas tristezas e ainda as chamo,
admito. Aconteça o que acontecer, desde que as chame, aparecem sempre. São de
confiança. E depois, o que se faz mesmo com a felicidade? É-se feliz, e depois?
Depois deve ser preciso aprender a viver-se feliz, a acreditar que se merece, a
aprender a não ter medo que algo de terrível aconteça, a fazer as pazes com o
que se passou connosco, a aceitar, a perdoar, a aprender a continuar, a
acreditar, a confiar, a transmitir, a não desistir, a lidar com o vazio e a
preenchê-lo com coisas bonitas feitas por nós. A infelicidade não me exige nada
disso, é só deixar-me estar.”
Marta Gautier
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