Em 1913, na zona balnear de Deauville,
encontravam-se reunidos os amantes de corridas de cavalos. Entre eles, um casal
de namorados que lá passava uma temporada. Ela, francesa, mulher de história
triste que por dor ou vergonha escondia e negava as suas origens, modista de moderado
sucesso na criação de chapéus. Ele, inglês, intelectual ligado à política, jogador
de polo, não o seu primeiro nem único homem, mas o seu grande amor e,
sobretudo, o seu maior apoiante. Certa manhã, a modista decidiu que vestiria
uma camisola de malha dele, mas não pela cabeça. Cortou-a pela frente. Para não
estragar o penteado ou por mero capricho, não sabemos. Improvisou uma gola e um
cinto com retalhos do mesmo tecido e, finalizando, coseu-lhe dois enormes
bolsos “na altura exacta em que as mãos gostam de descansar”. Surpreendentemente,
com a diferença de estatura entre ambos, a malha caiu como se fosse um vestido.
Essa
mulher era Gabrielle “Coco” Chanel. O seu homem, Arthur “Boy” Capel. A peça, o cardigan, reinventado para o feminino.
Saindo à rua, “todos me
perguntavam onde o tinha comprado e eu respondia, se quiser, vendo-lhe um.
Nesse dia, vendi dez modelos iguais.” De modista a maior estilista do séc.
XX, uma self-made woman visionária, dona
de uma criatividade que aliou como ninguém o clássico ao revolucionário,
afirmou pouco antes de morrer: ”A minha fortuna foi construída em cima daquela
malha velha que eu vesti porque fazia frio em Deauville".
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