Faz algum tempo, no dia 19 de Janeiro, foi entrevistado num canal da nossa televisão o Prof.
Carlos Amaral Dias, psiquiatra e psicanalista português. O conceito central
discutido foi “depressão na recessão”, que diz respeito ao súbito aumento da
taxa de suicídio em Portugal (e também em outros países, como a Grécia ou a
Irlanda) e de perturbações depressivas associadas à conjuntura económica actual.
O impacto da crise económica e social na saúde mental dos portugueses é
inquestionável, uma vez que “a pobreza, o desemprego e a exclusão social são
factores que levam a um conjunto de afectos como a tristeza, sentimentos de
ruína e sobretudo os sentimentos de desespero”, como foi referido. Estes
afectos estão correlacionados com o aumento do índice suicidário, bem como com
o aumento do número de depressões.
O
desemprego e a precariedade em que muitos portugueses hoje vivem originam
frequentemente sentimentos de auto desvalorização e a sensação de fracasso.
Contudo, o impacto psicológico da crise assume contornos diferentes em função
da faixa etária da população. É fundamentalmente na meia-idade que se verifica
maior incidência de sintomas de depressão, esta estreitamente relacionada com o
sentimento de perda, já que muitos
indivíduos tinham a sua vida relativamente organizada e, subitamente, são
forçados a lidar com a perda de rendimentos, de emprego ou de casa. Em
acréscimo, torna-se muito angustiante para um indivíduo de meia-idade imaginar a
possibilidade a oportunidade de “recomeçar do zero”. No que respeita à
juventude, o impacto psicológico não está tão relacionado com a depressão, mas encontram-se
muitos sintomas de ansiedade, espelhando o medo do futuro.
Em
momento de “cortes” na Saúde e na Segurança Social e, portanto, na ausência de
um sistema nacional que possibilite um suporte psicológico adequado ao momento
de crise, impera a necessidade de o indivíduo procurar apoio na sua rede
social, isto é, na família, nos amigos e na comunidade. Contudo, para que isso
aconteça é essencial que cada um reconheça (perante si próprio e muitas vezes perante
os outros) as suas dificuldades, pois existe sempre muita vergonha associada às
situações de carência económica e, mais ainda, vergonha relativamente à
fragilidade psicológica. Paradoxalmente, importa dizer que existe sempre mais
força no indivíduo que assume as suas fragilidades do que naquele que as
esconde. Em acréscimo, sabe-se que negar e fugir da nossa verdade (interna e
externa) é uma das causas de mal-estar psicológico. O acto de pedir ajuda (seja
de que ordem for) é, por si só, um acto de Saúde Mental.
Sem comentários:
Enviar um comentário