Como uma
espécie de relâmpago emocional, todos possuímos e sentimos impulsos. O que
varia é a luminosidade do relâmpago, isto é, o grau em que nos invade o
pensamento, e o barulho do trovão subsequente, ou seja, a capacidade de conter/controlar
esses impulsos.
Ser
impulsivo é um funcionamento psicológico mais associado à infância ou à
adolescência mas tornou-se uma característica relativamente aceite na idade
adulta, muito em parte porque se encontra erradamente associada a uma personalidade
forte. Assim, confunde-se frequentemente impulsividade com autenticidade ou
mesmo com energia/entusiasmo quando podemos ser genuínos e activos sem sermos
impulsivos (ou seja, emocionalmente reactivos). O comportamento impulsivo denuncia
uma dificuldade em tolerar os conflitos internos, nomeadamente, afectos mais
incómodos e desagradáveis como a ansiedade (ou medo), a frustração ou a raiva. Perante
estas emoções, sem uma necessária “digestão” das mesmas (por falta de estrutura
psicológica) ou das situações que as despoletam, agimos impulsivamente. Outras
vezes, pouco tolerantes à dúvida ou à espera (de novo, nada mais que a
ansiedade), agimos, seja por palavras não pensadas, seja num comportamento
irreflectido.
Quando há
uma maior possibilidade de introspecção, isto é, de pensar analiticamente sobre
as coisas (as nossas, as dos outros ou as do mundo) torna-se possível funcionar
mais ponderadamente. Pensar implica primeiro conter dentro de nós algumas
emoções mais difíceis (durante maior ou menor quantidade de tempo) e depois
analisá-las e resolve-las internamente sem descarregar imediatamente os
impulsos no exterior (muitas vezes em cima dos outros).
Seres
impulsivos por natureza, os animais, esses sim, regem-se por instintos vários,
mas o Homem é um ser fundamentalmente reflexivo, o que pressupõe essa dita capacidade
de pensar sobre as coisas. No entanto, nem sempre acontece e tudo o que é então
demasiado difícil de ser guardado e pensado dentro de nós (conflitos, dilemas,
receios) é agido. Olhando em redor, nesta época de brandos costumes, dominada
pelos impulsos imediatos ou compulsões, segundo uma apologia consumista “daquilo
que não pode ficar para depois”, as pessoas agem muito e pensam pouco. Não se
pretende ignorar que alguns impulsos humanos conferem cor e sabor à história de
alguém e à história da Humanidade mas a dificuldade que aqui se realça diz
respeito ao funcionamento sistematicamente (estruturalmente) impulsivo, que nos
leva frequentemente pelo caminho errado e, não raras vezes, longe de mais.