Não
gostamos de falar sobre a morte. Nem sequer de pensar sobre a morte. Também não
parece muito confortável ler sobre a morte. Se calhar, depois de a palavra
morte surgir tantas vezes, sem eufemismos, muitos interromperão, já aqui, a sua
leitura. Quem ama a vida, sofre quando pensa na morte. E teme-a, dada a sua
inevitabilidade.
Ganhamos,
desde cedo, consciência do fim da vida. Essa consciência conduz-nos a um tipo
de angústia muito particular, a angústia
existencial, que embora surja logo na infância, se torna mais pensada
(logo, mais sentida) a partir da adolescência. À volta desta angústia nascem
questões que, com maior ou menor frequência, todos já colocámos: O que há
depois da morte? Qual o sentido da vida? Existe Deus? Será, a alma, imortal?
Como
lidamos nós com a certeza da nossa finitude?
Para
quem, através da fé religiosa, encontra as suas respostas para estas perguntas,
torna-se mais fácil viver sem grandes problemas existenciais. É uma forma de
dar um sentido à nossa existência e que nos garante o reencontro das almas
mesmo depois do adeus.
Para
quem estas perguntas ficam sem resposta, para os que não encontram aqui a
serenidade necessária, são adoptadas outras maneiras de seguir em frente
(sabendo que seguir em frente significa seguir em direcção à morte). Perante a angústia
existencial, encontramos um mecanismo de defesa psicológico chamado evitamento, que nos ajuda a “esconder”
de nós próprios os nossos maiores receios (e outras emoções). É útil, caso
contrário, estaríamos todos mais ocupados a questionar a fragilidade da vida do
que a vivê-la. Na sua vertente mais patológica, o mecanismo do evitamento pode assumir
a forma de delírio. Aí, quando a dificuldade
de pensar a morte se mascara de indiferença ou até de omnipotência, tendemos a “desafiá-la”
inconscientemente e, à custa disso, podemos encontrá-la mais cedo.
O
mecanismo de evitamento mais saudável é de outra qualidade, é a resignação/aceitação. A maioria de nós
apaga a consciência da morte enquanto se entretém com as tarefas da vida.
Percebemos que a melhor forma de não temer a morte é dar sentido à vida. É
aproveitá-la. É amar e ser amado, crescer, criar vínculos e/ou descendência,
produzir obra e deixar um legado. Temos a liberdade de escolher que sentido dar
à nossa vida, contudo, de tudo o que podemos escolher, que seja uma escolha de
amor. É pelo amor que melhor se ultrapassa a angústia existencial. Pelo
estabelecimento de relações significativas e criativas. O amor por nós e pelo
outro é o espelho do amor pela vida (que é, no fim de contas, feita da soma de
nós e dos outros).
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