Somos
construção momento a momento. Somos a soma de tudo o que fazemos, dia após dia,
hora após hora. Viver no presente tira-nos por vezes a noção de como chegámos
onde chegámos. Como fiquei tão triste? Como ganhei tanto peso? Como construí
uma carreira profissional tão sólida? O tempo é um continuum. Todos os dias trabalhamos (ou não) para um fim. Cada
ação ou cada inação, cada sacrifício ou cada negligência, cada palavra ou cada
silêncio, tudo nos conduz a um lugar.
Quando
lutamos por conquistar um determinado sonho ou objetivo, é importante não
esquecer isto. Mesmo quando parece que não saímos do mesmo sítio, estamos a
caminho. Se trabalhamos regularmente para algo, mesmo nas horas mais paradas, há
coisas a acontecer. É o trabalho de bastidores, aquele que nem sempre é valorizado,
porque não se vê. É tudo o que acontece a um nível micro, enquanto o nosso
olhar se foca no nível macro.
Quando
um bebé começa a andar, acumula em si milhares de pequenas experiências invisíveis.
Milhares de pequenas conquistas, em que foi adquirindo força, confiança e
destreza suficiente para tal. O mesmo acontece quando começa a falar. Dentro de
si, o processo de aprendizagem começou no dia em que nasceu. Escutando o outro,
processando a linguagem dentro de si, apreendendo o significado das coisas,
silenciosamente. Um dia, manifesta-se. Também na prática de yoga acontece trabalharmos
uma posição semanas e semanas sem ver evolução. Um dia, damos o salto. Na
psicoterapia é igualmente assim que acontece. Trabalhamos, sessão a sessão,
para um melhor entendimento de nós mesmos, da nossa vida, do nosso sofrimento.
Sabemos que há coisas a mudar mas nem sempre nos parece possível chegar onde
gostaríamos. É trabalhoso. Porém, se perseverarmos, um dia, numa determinada
circunstância, desabrochamos. Damos por nós, pela primeira vez, a agir (ou
reagir) diferentemente. “Nem me reconheço”, pensamos. Foi uma construção lenta,
microtransformações acontecendo lentamente cá dentro que conduzem a um resultado
só visível mais tarde, quando as condições ideais se reúnem. É a lógica da
lagarta que se transforma em borboleta. A diferença é que ela se fecha para o
mundo enquanto se dá a metamorfose, enquanto em nós as transformações não passam
necessariamente pelo isolamento. Em nós, a transformação parece mais súbita, pois
acontece enquanto vivemos as nossas vidas, mas a sua construção começou muito
antes da sua manifestação.
É
preciso, para isso, ter uma visão a longo prazo. Se procuramos os resultados
rápidos, a recompensa imediata, tendemos a desistir. As verdadeiras conquistas
demoram. O tempo das transformações sólidas é muitas vezes diferente da nossa
urgência. É preciso ter serenidade e confiança no esforço e dedicação. É o
trabalho que conduz ao sucesso.