O
Homo Sapiens Sapiens é, precisamente,
não só aquele que sabe, mas, aquele que sabe
que sabe, e tendo consciência do seu saber, quer saber cada vez mais e
melhor. Por isso, a educação e a transmissão dos conhecimentos preocupam a
nossa espécie há milhares de anos.
Desde
a época de Sócrates, o filósofo, que a educação tem vindo a ser objecto de
interesse de estudiosos e curiosos. A primeira pedagogia, aplicada pelos
jesuítas, foi designada “método tradicional”. Era um método estruturado e
rigoroso, centrado no saber. Neste modelo educativo, quem detinha o conhecimento
era o mestre (o professor) e o aluno era encarado como aquele cuja função era (exclusivamente)
receber todo o conhecimento que o professor lhe transmitia. Assentava no
formalismo, na memorização e na autoridade, e os métodos de ensino
restringiam-se à exposição (da matéria) e à interrogação (questões sobre a
matéria, a “chamada”). Na sala de aula, o estrado acentuava a distância física e
afectiva entre professor e aluno, e as janelas eram colocadas acima do nível
dos olhos dos alunos, para não haver contacto com o exterior. E, durante muito
tempo, vigorou este acto educativo, fechado em si próprio.
Perante
o avanço do conhecimento acerca do desenvolvimento infantil (e do ser humano,
em geral), a pedagogia tradicional tornou-se desajustada e foram sendo gradualmente
introduzidas alterações no ensino, tanto estruturais como pedagógicas. Fundamentalmente,
o professor e o seu saber deixaram de ser o centro do processo educativo. Simbolicamente,
o estrado deixou de existir e as janelas foram abertas para o mundo exterior, permitindo
um grande enriquecimento humano pelas novas formas de interacção que então se
estabeleceram: mais diálogo entre aluno e professor, mais familiaridade entre
alunos, mais partilha entre todos. Cá fora, ao ar livre, os alunos passaram a
realizar actividades, visitas de estudo ou ginástica. Através da pesquisa, e de
uma forma autónoma, o aluno é agente e constrói também o seu conhecimento,
privilegiando sempre a actividade lúdica e o uso dos materiais didácticos.
Acrescenta-se a dimensão da liberdade e da disciplina desenvolvidas em conjunto,
como controlo e resultado uma da outra.
Já
percebemos que “educar não é domesticar”, como diz Eduardo Sá. Mas precisamos ainda
de um ensino que ouça todas as vozes, que fomente a criatividade e o pensamento
divergente, que legitime o direito à diferença e estimule a individualidade de
cada um, sem esquecer, evidentemente, a importância do todo em que nos
inserimos. E falta-nos, em grande parte, interiorizar que a escola não pode
resolver questões, outras, que ultrapassam o ensino. Quando as coisas não estão
bem na vida da criança, ela não consegue beneficiar do que a escola tem para
oferecer. A cabeça não pode funcionar na sala de aula quando o coração ficou em
casa. E os professores, sozinhos, não sabem nem podem resolver problemáticas
que os ultrapassam.