Enquanto engenheiros de nós mesmos, ora construímos pontes, ora construímos muros. Pontes ligam. Pontes são elementos de comunicação, colaboração e relação. Pontes são apertos de mão, são abraços. Pontes funcionam como um sim. Porém, nem só de pontes se faz o Homem. Os muros permitem-nos estabelecer fronteiras. Muros são limites, são critérios, são travões. Muros são um "chega para lá". Muros funcionam como um não. Oscilamos (e ainda bem) entre pontes e muros, entre a aliança e a ruptura, entre o sim e o não. O instrumento que nos ajuda a aferir o que é necessário construir em cada momento tem, para mim, nome de livro: sensibilidade e bom senso.
Transformação é a palavra-chave. Na vida ou há desenvolvimento ou instala-se a decadência. O estacionamento é uma ilusão. Nas palavras de Cervantes, “A estrada é sempre melhor que a estalagem” (António Coimbra de Matos)
terça-feira, 30 de setembro de 2014
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
Pedir Desculpa: Fácil, Difícil ou Impossível?
Pedir desculpa nem sempre é fácil. É que este
acto acarreta ramificações psicológicas que vão além da palavra em si. Embora
possamos justificar a relutância em pedir desculpa com orgulho, por norma há
uma dinâmica psicológica muito mais profunda e complexa.
Ao contrário do que parece, recusarmo-nos a pedir
desculpa não reflecte uma “personalidade forte” mas sim, pelo contrário, um esforço para nos
protegermos das nossas fragilidades e de angústias fundamentais (conscientes ou
inconscientes). Comecemos:
- Admitir que se fez algo errado pode ser sentido
como ameaçador quando se confunde acção
e carácter: como se aquilo que
fazemos definisse totalmente quem somos. Por exemplo, confundir um erro ou
uma negligência com estupidez ou ignorância. Nestas circunstâncias, quando
se pensa desta forma, as desculpas representam naturalmente uma grande
ameaça para o nosso sentido básico de identidade e auto-estima.
- Pedir desculpa pode abrir as portas ao sentimento
de culpa ou ao sentimento de vergonha. E enquanto a culpa faz-nos sentir
mal relativamente às nossas acções, a vergonha faz-nos sentir mal em relação
à nossa pessoa, o que faz dela uma emoção muito mais tóxica que a culpa. Mais
uma vez, encontramos aqui uma confusão entre acção e carácter.
- Embora o pedido de desculpa seja uma oportunidade
de resolver um conflito, quem não consegue fazê-lo normalmente receia o
inverso: que abra um precedente para outras acusações e mais conflitos. E
embora haja pessoas que efectivamente não aceitam o pedido de desculpa
como reparação, as pessoas mais saudáveis não utilizam um momento de
sinceridade e humildade para humilhar ou enxovalhar o outro, pois aí o
problema já não é de quem pede desculpa, mas sim de quem não sabe
aceitá-las.
- A dificuldade de pedir desculpa esconde ainda o
receio que fazê-lo signifique assumir a responsabilidade total do assunto
e libertar a outra parte do seu quinhão de responsabilidade. Aqui, há uma
confusão entre as partes e o todo. Uma história tem sempre dois lados e
cada um deve olhar para o seu.
- A recusa em pedir desculpa é, ainda, uma
forma de manter as emoções sob controlo. Há o receio que, ao “baixar a
guarda”, as defesas psicológicas se desmoronem e abram as portas a uma
cascata de sentimentos desconfortáveis. Mas a verdade é que, quanto mais
nos abrimos perante o outro, quanto mais honestos e autênticos formos,
mais saudáveis nos tornamos, e mais saudáveis as relações em nosso redor.
Viver de espada em riste é um tremendo cansaço e uma ardilosa armadilha.
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segunda-feira, 15 de setembro de 2014
No fim vai tudo dar ao mesmo
"Eu penso assim. Eu penso assim. Mas
quero perceber o que tu pensas. Eu sinto assim. Mas quero ouvir o que tu
sentes. E tu, queres saber o que eu penso? Queres saber o que eu sinto?" É
que uma das poucas certezas que podemos ter é que poucas coisas são certas. Por
'certas', entenda-se, verdades absolutas. Exceptuando talvez o mundo matemático
(ciência dita exacta em que 2 + 2 são sempre 4). Tirando isso e pouco mais, a
leitura que fazemos da vida, das pessoas e das situações é apenas a nossa
leitura. Por mais objectivos que tentemos ser, ela é sempre fruto de quem somos
e do que vivemos. Dos 'óculos' que usamos. É, por isso, preciso cada vez mais
interesse e respeito pela opinião do outro ao invés de viver em campos de
batalha entre o que eu penso e o que tu pensas, o que eu sinto e o que tu
sentes. Entre o 'certo' e o 'errado'. O que é isso de querer ter razão? Os
conflitos surgem da incapacidade de ouvir e entender a perspectiva do outro. É
preciso respeito. E depois, já agora, flexibilidade. É preciso descentrarmo-nos
dos nossos umbigos. E o mais simples e paradoxalmente complexo de tudo isto é
perceber que no fim de contas o que é mesmo preciso é amar o outro. O amor pelo
outro implica sempre o respeito pela diferença.
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Piscos e Catrapiscos
Os tiques consistem na execução súbita
e involuntária de um movimento, de forma repetida. Vêem-se com muita frequência
em crianças, mas são também vulgares em adultos. Desde os cabelos aos dedos dos
pés, todo o corpo pode ser “usado” para a manifestação dos tiques. Os tiques do
rosto são os mais frequentes: piscar os olhos, franzir o nariz ou as
sobrancelhas, movimentos da língua ou do queixo. Há também tiques ao nível do
pescoço, braços, mãos, dedos e inclusivamente tiques respiratórios (fungar,
assoar-se, tossir, assobiar) ou fonatórios (estalar da língua, grunhidos). Na
maioria das vezes surgem com a entrada na idade escolar (6/7 anos).
O tique vem aliviar uma tensão, embora
o próprio tique seja, muitas vezes, causador de vergonha, culpa e mal-estar,
por não ser muito bem tolerado por nós e pelos outros. Isto só acontece quando
desconhecemos que o que importa verdadeiramente é perceber que o tique “fala”,
ou seja, tem um significado que não pode ser ignorado. É sinal de mal-estar. No
início, pode ser apenas uma reacção a uma ansiedade passageira e pode
desaparecer tão espontaneamente como surgiu. O que significa que a pessoa foi
capaz de ultrapassar algum conflito ou tensão interior. No entanto, no caso de
duração prolongada ou substituição recorrente de um tique por outros tiques, é
necessário uma abordagem mais aprofundada que permita entender o que corre mal
ao nível das emoções. Há algo dentro de si que a criança (ou adulto) não está
conseguir entender e/ou resolver.
Assim, a durabilidade do sintoma-tique
permite perceber que estamos já na presença de uma estrutura psicológica de
natureza ansiosa e não apenas de uma reacção pontual. Por vezes, os tiques representam
uma tentativa muito forte de autocontrolo destas emoções difíceis, mas como a
tarefa é árdua leva-nos a descarregar o peso de outra forma qualquer. Não é
raro que crianças/adultos com tiques manifestem perfeccionismo e rigor na sua
conduta. É que algo está aprisionado, mas precisa de sair. Algo está a ser
contido a elevado custo dentro de nós e clama por uma forma de ser expressado.
Não é tentando reprimir o tique que iremos resolvê-lo, muito pelo contrário. Já
há muita coisa a ser reprimida e daí aparece o tique. Há que olhá-lo como uma expressão
de ansiedade/conflito e tentar descobrir o seu significado simbólico que será, sempre,
variável consoante a história de vida de cada um de nós.
Lambreta
Vem dar uma voltinha na minha lambreta
E deixa de pensar no tal Vilela
Que tem carro e barco à vela
O pai tem a mãe também
Que é tão tão
Sempre a preceito
Cá para mim no meu conceito
Se é tão tão e tem tem tem
Tem de ter algum defeito
― António Zambujo
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
terça-feira, 9 de setembro de 2014
Galileu, as Estrelas e a Lua
A propósito da lua cheia de hoje, apresento o desenho de Galileu das fases da lua (1616).
Galileu, o corajoso, que ao contrário da maioria não temia aquilo que não entendia. A sua paixão pelo conhecimento era maior que o medo do desconhecido. Disse ele: "Amei as estrelas com demasiada afeição para estar temeroso da noite."
domingo, 7 de setembro de 2014
Muitos mergulhos e poucas respostas
O Verão, rapazes ― como disse C. Adams ―
implica uma insistência nos mergulhos
e uma desistência breve das respostas.
Importante é passar a mão pelas escarpas,
afagar o pescoço das andorinhas do mar,
verificar o oxigénio no tubinho de plástico
que ajuda a respirar na cala azul turquesa
e permitir que o Senhor ressuscite o sangue
dos espadartes todas as manhãs de 29ºC.
Estas são as tarefas que devem ser realizadas
e ― como disse Adams ― bom mesmo é chegar
ao fim da estação sem nenhuma resposta.
― Matilde Campilho, Um coração que mora dentro do olho do jaguar
implica uma insistência nos mergulhos
e uma desistência breve das respostas.
Importante é passar a mão pelas escarpas,
afagar o pescoço das andorinhas do mar,
verificar o oxigénio no tubinho de plástico
que ajuda a respirar na cala azul turquesa
e permitir que o Senhor ressuscite o sangue
dos espadartes todas as manhãs de 29ºC.
Estas são as tarefas que devem ser realizadas
e ― como disse Adams ― bom mesmo é chegar
ao fim da estação sem nenhuma resposta.
― Matilde Campilho, Um coração que mora dentro do olho do jaguar
sábado, 6 de setembro de 2014
Opinião só não muda quem não tem
Não é raro encontrarmos pessoas incapazes de
mudar de opinião mesmo quando os factos mostram que estão enganadas. Outras
vezes, não é raro observar-se alguma dificuldade em assumi-lo, quando acontece.
Há quem lhe chame teimosia. No entanto, não usamos palas como os burros e,
assim sendo, não precisamos de olhar só em frente, podendo utilizar a visão
periférica para alargar perspectivas. Tristemente, mudar de opinião está muitas
vezes associado a incoerência e a falhas de carácter, contrariamente à citação
de Mário Quintana que originou o título desta reflexão. É encarado como falta
de personalidade. Como se a personalidade não fosse ela mesma construída ao
longo do tempo. Como se o certo fosse mantermo-nos rígidos e formatados do
princípio ao fim. Como se, desde o nascimento até à morte, a vida não fosse um
processo de transformação e evolução constante.
Quantos educaram os seus filhos de uma forma e
hoje gostariam de os ter educado de forma diferente? Quantos começaram a sua
vida com determinados ideais políticos e hoje pensam de outra forma? Quantos alteraram
as suas crenças religiosas com o passar do tempo? Quantos se envolveram em
projectos pessoais e desistiram ao perceber que não iriam a lado nenhum? Ainda
bem que assim acontece.
Perante evidências de que aquilo em que
acreditamos não nos conduz a bom porto ou já não faz sentido, não é inteligente
permanecer no engano. Os factos são soberanos e frequentemente chega a hora de
revermos até as nossas mais caras convicções.
O apego exagerado às ideias faz-nos portadores de mentes endurecidas e
cristalizadas. O pensamento é uma função plástica e pobre daquele que fica
confinado a uma crença eterna e inquestionável.
Por vezes, essa mudança de pensamento parece difícil
de concretizar. São demasiadas resistências. Do latim resistentia, que significa oposição, obstáculo, reacção ou defesa. De facto,
defendemo-nos da maioria das mudanças. Externas e internas. Persistimos com
frequência, até porque temos uma certa tendência à repetição. E o familiar é
sempre mais confortável que o desconhecido.
Viver é ter incertezas. Percebemos o quão difícil isto pode ser, pois ao
abandonarmos as nossas antigas convicções, perdemos o referencial que sempre
nos guiou. E nem sempre dispomos imediatamente de conceitos novos e mais
adequados, ou seja, por um tempo, conviveremos com dúvidas. Se isto não me faz
mais sentido então qual será o caminho?
Para
poder viver em paz com o permanente processo de aprimoramento e mudança é
preciso aceitar o convívio com as dúvidas e a angústia que elas causam. E posto
isso, felizes os que mudam de ideias, pois questionam o sentido das coisas e
pensam sobre o que lhes faz ou não sentido.
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Interiores
Gosto de interiores. Talvez porque as casas espelham a alma de quem lá mora. Não se quer demasiado cheia nem demasiado vazia. Talvez assim na exacta medida do que se precisa e do que se dispensa. É necessário saber guardar e igualmente importante deixar partir. Algures nesse equilíbrio está o interior 'perfeito'. O nosso e o da nossa casa.
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
Conversas nas Entrelinhas
— Mãe, fazes-me companhia até eu adormecer?
— Sim, filho. Ficarei contigo até ao dia em que fores crescido o suficiente para já não precisares de mim para adormecer.
— Obrigado, por me ajudares com os meus medos de pequenino. Um dia quando for grande vou ser o maior e o mais forte e lembrar-me-ei da tua paciência. E estarei lá para ti quando precisares.
terça-feira, 2 de setembro de 2014
Dignidade
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