Transformação é a palavra-chave. Na vida ou há desenvolvimento ou instala-se a decadência. O estacionamento é uma ilusão. Nas palavras de Cervantes, “A estrada é sempre melhor que a estalagem” (António Coimbra de Matos)
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
Ensaios/Rascunhos
Lembro-me agora de todas as bonecas a quem cortei o cabelo. Mais importante que os brinquedos, são as brincadeiras, ensaios da vida. A imaginação, a concretização e, quantas vezes, o arrependimento (lição aprendida: não se cortam cabelos de cabeça para baixo). Conviver com o brinquedo estragado, lidar com a zanga, elaborar o remorso, poder repará-lo ou aprender a gostar dele mesmo assim. Felizes os que estragaram brinquedos. A propósito de brinquedos, ou não, Feliz Natal!
Pedrinha (Dos brinquedos partidos)
Os pais, que se lamentam porque um brinquedo
foi escangalhado cometem um erro considerável, que demonstra a sua ignorância
acerca de um fenómeno importante: os bocados dos brinquedos escangalhados têm
ainda mais valor para a criança do que os brinquedos inteiros, são-lhe muito
úteis durante muito tempo.
in A
Criança e a Expressão Dramática (Entrevista de Françoise Dolto, psicanalista
de crianças)
sábado, 7 de dezembro de 2013
Não se diz ao triste que se alegre
João
dos Santos, mestre pedagogo, médico e psicanalista português do séc. XX, dizia
que “não há melhor remédio para a tristeza do que chorar”. No entanto, se
alguém chora junto de nós, com quanta facilidade dizemos “deixa lá, não chores”,
sem nos apercebermos como somos chatos quando não damos espaço para o outro
chorar. Mais do que chatos, somos pouco empáticos e mesmo desrespeitosos, pois
respeitar a tristeza de alguém implica aceitar esse sentimento, legitimá-lo e
permitir a sua expressão.
A
verdade é que quando dizemos a alguém para não chorar ou para não ficar triste,
fazemo-lo por nós e não pelo outro. Zangando-se, muitos pais ficam melindrados
ou sentidos com o choro dos seus filhos. Acham que lhes dão tudo do bom e do
melhor e que, assim sendo, eles não têm motivos para chorar, “esquecendo-se”
que todos temos tristezas incompreensíveis. Por vezes mandamos o outro não
chorar porque o choro nos é incómodo, desconfortável ou mesmo perfeitamente
insuportável, espelhando como é difícil suportar a tristeza e o desamparo de
alguém. Aceitar o choro do outro implica aceitar o sofrimento do outro e mais,
recorda-nos de sofrimentos muito nossos, que tantas vezes tentamos esquecer.
Contactar com as partes mais frágeis do outro é contactar também com as nossas,
e é aí, nesse lugar escuro, que pedimos, “não chores”.
É
que para além de não conseguir lidar com o outro que chora, muitos não podem ou
conseguem, eles próprios, chorar. Uns não choram porque nem se apercebem que
estão tristes, o que é algo ainda mais triste. É uma existência robotizada.
Outras pessoas sabem que estão tristes, mas aprenderam a esconder do mundo a
tristeza. Talvez porque em pequeninos ninguém lhes tenha dado liberdade de chorar.
Talvez alguém lhes tenha ensinado (fundamentalmente aos rapazes) que chorar é
sinal de fraqueza. Chorar é também uma questão cultural, mas quantas vezes a
cultura nos oprime e limita nos nossos instintos mais básicos e saudáveis?
Chorar é melhor do que qualquer antidepressivo. Chorar é catártico. Permite
libertar tensão, aliviando a angústia e pondo fora o sofrimento, ao invés de o
guardar cá dentro, como uma espécie de “dor de estimação”.
Como
dizia Luís de Camões, “pouco sabe da tristeza quem, sem remédio para
ela, diz ao triste que se alegre”. Perante o choro de alguém, em vez de
conselhos, ofereça-se antes um colo ou um abraço, ainda que isso intensifique o
choro. Mais vale pôr para fora do que para dentro. Em psicoterapia, muitas
melhoras acontecem quando alguns pacientes se tornam capazes de chorar. Chorar
é aceitar a nossa humanidade e parar de fugir do sofrimento. Só não sofre quem
está morto.
domingo, 1 de dezembro de 2013
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Pedrinha (Do Medo)
O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Alexandre O’Neill
in Abandono Vigiado (1960)
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
ótimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projetos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Alexandre O’Neill
in Abandono Vigiado (1960)
domingo, 24 de novembro de 2013
Contos de Gente
Era uma vez. E depois foram felizes para sempre. É o princípio e
fim de quase todos os contos de fadas que povoam o imaginário das crianças. É
inquestionável a importância dos contos de fadas: ajudam-nos a imaginar, a
sonhar e a desejar. Ensinam-nos sobre o amor e sobre a amizade. Sobre os
afectos. Sobre os valores. Ensinam-nos sobre a coragem e sobre a derrota e a
vitória. Com eles aprendemos também a gerir emoções semelhantes às sentidas nos
enredos da vida real. São fundamentais, os contos de fadas.
O que é de pensar é que embora em todas estas histórias haja
sempre lugar para as desventuras e percalços, o final, no entanto, é sempre inquestionavelmente
feliz e nunca nenhum deles nos conta o que acontece depois. O “felizes para
sempre” é um momento estático, fechado, é a frase que não deixa espaço para
imaginar o que podia acontecer durante os 20 anos que se seguem, encerrando com
o fim do conto todas as angústias. E se quando somos pequenos, acreditar nos
desfechos felizes é o que nos permite andar para a frente com esperança,
crescer é deixar cair a ilusão de que o fim das histórias é incondicionalmente
feliz. Sem mais sobressaltos. Sem mais tropeções. As histórias são felizes
enquanto puderem ser. Ora são mais felizes, ora são menos felizes, ora tornam a
ser mais felizes. Crescer é poder tolerar a dúvida e aceitar que as certezas
pertencem a um mundo que não é humano nem real, mas sim tranquilizadoramente encantado,
pois cá fora a realidade é dinâmica e está sempre em movimento, envolvendo as
pessoas e as suas relações nessas oscilações.
Para lá dos contos de fadas, há no mundo adulto muita literatura
e cinema que assenta igualmente neste ideal de que no fim tudo está bem quando acaba
bem. Aliás, muitas pessoas não toleram uma história cujo final não inclua esse momento
“cor-de-rosa”. Porque aí há uma angústia que fica em aberto. Assim, percebemos
que a problemática dos contos de fadas não se limita às crianças nem aos
adolescentes. Quando falamos nessa fantasia infantil de não querer aceitar a
montanha-russa da nossa existência falamos também duma parte de todos nós,
adultos, que fica mais ou menos presa a um ideal de felicidade que nos
acompanha desde pequenos.
Viver é encarar com optimismo essa realidade que não é
eternamente nem estaticamente cor-de-rosa, aceitando que há muitos outros tons
que pintam as histórias das nossas vidas. São tons vermelhos, laranjas, azuis,
verdes, amarelos. Também há os cinzentos e mesmo os pretos. É, a realidade não
é um conto de fadas. Mas é uma pintura colorida ainda mais interessante, viva e
saborosa do que um conto de fadas. São contos de gente.
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terça-feira, 12 de novembro de 2013
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
Pedrinha (Dos Abraços)
"A duração média de um abraço entre duas pessoas é de 3
segundos. Mas os investigadores descobriram algo fantástico. Quando um abraço
dura 20 segundos há um efeito terapêutico sobre o corpo e mente. A razão é que
um abraço sincero produz uma hormona chamada "oxitocina", também
conhecida como a hormona do amor. Esta substância tem muitos benefícios na
nossa saúde física e mental, ajuda-nos, entre outras coisas, para relaxar, a
sentir segurança e a acalmar os nossos medos e ansiedade. Este maravilhoso
calmante é oferecido de forma gratuita cada vez que temos uma pessoa nos nossos
braços"
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Pedrinha (Da Liberdade de Ser)
“A análise é árdua e faz sofrer. Mas quando se está
desmoronando sob o peso das palavras recalcadas, das condutas obrigatórias, das
aparências a serem salvas, quando a imagem que se tem de si mesmo torna-se
insuportável, o remédio é esse. Pelo menos, eu o experimentei (...) Não mais
sentir vergonha de si mesmo é a realização da liberdade (…). Isso é o que uma
psicanálise bem conduzida ensina aos que lhe pedem socorro”.
Françoise
Giroud
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Elogio à Consciência dos Momentos Felizes
"Desde cedo que temo a possibilidade de passar
pelas horas mais felizes da minha vida sem as reconhecer. Não sei com quem
aprendi esse talento. Sinto pena silenciosa quando vejo alguém recordar um
tempo em que foi feliz como se, só naquele instante, demasiado tarde,
identificasse a felicidade que atravessou. Não quero esse desperdício para mim.
A vontade de reconhecer os melhores momentos da minha vida no instante em que
estou a vivê-los, dá-me a lucidez de estar sempre alerta para a felicidade. É
essa a minha sorte."
José Luís Peixoto in
Breve partilha da minha sorte infinita
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Impulsividade
Como uma
espécie de relâmpago emocional, todos possuímos e sentimos impulsos. O que
varia é a luminosidade do relâmpago, isto é, o grau em que nos invade o
pensamento, e o barulho do trovão subsequente, ou seja, a capacidade de conter/controlar
esses impulsos.
Ser
impulsivo é um funcionamento psicológico mais associado à infância ou à
adolescência mas tornou-se uma característica relativamente aceite na idade
adulta, muito em parte porque se encontra erradamente associada a uma personalidade
forte. Assim, confunde-se frequentemente impulsividade com autenticidade ou
mesmo com energia/entusiasmo quando podemos ser genuínos e activos sem sermos
impulsivos (ou seja, emocionalmente reactivos). O comportamento impulsivo denuncia
uma dificuldade em tolerar os conflitos internos, nomeadamente, afectos mais
incómodos e desagradáveis como a ansiedade (ou medo), a frustração ou a raiva. Perante
estas emoções, sem uma necessária “digestão” das mesmas (por falta de estrutura
psicológica) ou das situações que as despoletam, agimos impulsivamente. Outras
vezes, pouco tolerantes à dúvida ou à espera (de novo, nada mais que a
ansiedade), agimos, seja por palavras não pensadas, seja num comportamento
irreflectido.
Quando há
uma maior possibilidade de introspecção, isto é, de pensar analiticamente sobre
as coisas (as nossas, as dos outros ou as do mundo) torna-se possível funcionar
mais ponderadamente. Pensar implica primeiro conter dentro de nós algumas
emoções mais difíceis (durante maior ou menor quantidade de tempo) e depois
analisá-las e resolve-las internamente sem descarregar imediatamente os
impulsos no exterior (muitas vezes em cima dos outros).
Seres
impulsivos por natureza, os animais, esses sim, regem-se por instintos vários,
mas o Homem é um ser fundamentalmente reflexivo, o que pressupõe essa dita capacidade
de pensar sobre as coisas. No entanto, nem sempre acontece e tudo o que é então
demasiado difícil de ser guardado e pensado dentro de nós (conflitos, dilemas,
receios) é agido. Olhando em redor, nesta época de brandos costumes, dominada
pelos impulsos imediatos ou compulsões, segundo uma apologia consumista “daquilo
que não pode ficar para depois”, as pessoas agem muito e pensam pouco. Não se
pretende ignorar que alguns impulsos humanos conferem cor e sabor à história de
alguém e à história da Humanidade mas a dificuldade que aqui se realça diz
respeito ao funcionamento sistematicamente (estruturalmente) impulsivo, que nos
leva frequentemente pelo caminho errado e, não raras vezes, longe de mais.
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
O Eu, o Tu e o Nós
Quando
crescemos em ambientes de pouca afectividade ou fomos insuficientemente
cuidados, tendemos a crescer “coxos”, ou seja, fica a faltar-nos uma estrutura
de confiança e amor-próprio suficientes para sermos emocionalmente autónomos. Como
consequência, facilmente procuraremos alguém que cuide de nós enquanto adultos,
ainda que este movimento seja inconsciente. Por vezes, se o dano for ligeiro,
pode encontrar-se um parceiro suficientemente saudável que nos permita sarar
quase espontaneamente as falhas das nossas relações precoces. Porém, se o dano
for profundo, não só ninguém poderá reparar o que está para trás (nem tem essa
obrigação) como nós próprios seremos obstáculo ao bom funcionamento da relação,
consoante a sofreguidão com que nos grudamos ao outro.
É
vulgar encontrar relações em que um elemento funciona como pai/mãe/bengala/penso-rápido
(e por aí fora) do outro. E há muito frequentemente confusão entre isso e algo
muito belo (e bem diferente) que se chama “amor”. Podemos então falar de
dependência emocional, definindo-a como um padrão persistente de necessidades
emocionais insatisfeitas que se tentam suprir de uma forma desadaptada com
outras pessoas. Quando precisamos do parceiro para nos sentirmos um ser humano
completo, quando toda a nossa vida gira em função de uma relação amorosa,
quando não há nada no mundo que mais importe do que isso, é preciso parar para
pensar. É aquilo que se entende por um amor fusionado, em que não se percebe
onde começa um nem onde acaba o outro. Comunhão, sim, fusão, não.
O
que é ser emocionalmente autónomo? Não é não precisar de ninguém pois isso não
existe. O ser humano é um ser relacional e a escolha de um parceiro faz parte
da condição humana, o lugar onde se coloca o parceiro é que é digno de análise.
A relação mais saudável é aquela em que duas pessoas adultas se sentem, per si, completas, mas que, quando se
juntam, se transbordam mutuamente e criam algo novo. É poder existir no mundo
independentemente da presença constante de alguém ao meu lado. É poder
funcionar no dia-a-dia com entusiasmo e confiança mesmo quando estou sozinho. É
amar-me. É possuir uma existência, personalidade, vontade, gostos e ideais
próprios, e respeitá-los, assim como respeitar/aceitar genuinamente que o meu
parceiro possa ser diferente de mim em todos estes aspectos. É permitir que a
relação seja um sistema aberto e nunca um sistema fechado sobre si mesmo (senão
a relação satura e, sem oxigénio, morre). É existir um Eu, reconhecer um Tu (diferente
e separado do Eu), e sentir o Nós como o produto da soma de ambos.
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domingo, 29 de setembro de 2013
Pedrinha (em dia de eleições)
É um mundo deprimido, sem chama nas
almas, que impõe/nos impõe lutar pelo progresso – social, individual, do
conhecimento e da ventura – e pela transformação num mundo em que seja possível
voltar a sonhar com o futuro.
Progresso económico, sim, mas em
liberdade, justiça e distribuição.
Com liberdade, continuaremos a caminhada –
do progresso e pelo progresso. Porque jamais – assim o queremos, assim o
determinamos – nos deixaremos amordaçar! O silêncio conduz à morte da
liberdade.
António
Coimbra de Matos
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Pedrinha (Da Terapia do Terapeuta)
Nunca me canso de dizer aos jovens
terapeutas que a sua ferramenta mais vital são eles próprios, e que,
consequentemente, o instrumento tem de estar primorosamente afinado. Os
terapeutas necessitam de ter um grande autoconhecimento,
de confiar nas suas observações e obrigatoriamente relacionarem-se com os seus
clientes de uma maneira atenciosa e profissional. É precisamente por esta razão
que a terapia pessoal está (ou deveria estar) na base de todos os programas de
ensino terapêutico. Não só acredito que os terapeutas deveriam ter anos de
terapia pessoal enquanto se formam, como ainda voltar à terapia à medida que
vão evoluindo na vida; à medida que se sentir mais confiante enquanto
terapeuta, e quanto mais acreditar nas suas observações e na sua objectividade, mais livre se sentirá
para usar, com segurança, os sentimentos que os seus pacientes lhe suscitam.
Irvin
D. Yalom in De Olhos Fixos no Sol
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quarta-feira, 25 de setembro de 2013
terça-feira, 24 de setembro de 2013
domingo, 22 de setembro de 2013
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
Pedrinha (Da Humanidade)
"Conheça todas as teorias, domine todas as
técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana"
Carl Jung
Manifesto
No
exercício da parentalidade, todos os dias se encontram histórias de papéis
invertidos, trocados ou confundidos entre pais e filhos. São histórias de
fronteiras mal definidas entre os lugares de cada um e que boicotam infâncias, embora
sem intenção. Nem sempre o equilíbrio familiar é conseguido e a confusão
inicia-se, cresce e invade as crianças, surgindo as dificuldades de
autonomização e bom desenvolvimento.
Um
dos sintomas deste caos familiar é a incapacidade de alguns adultos/pais de se
separarem dos seus próprios filhos e a inexistência de fronteiras claras (banhos
comuns, camas comuns, falta de privacidade ou intimidade). A obrigatoriedade de
partilhar tudo em família, sejam segredos, interesses ou ideologias, amputa a
individualidade fundamental de qualquer criança/adolescente. Outro sintoma do
caos é quando os pais carregam os seus filhos com confidências e desabafos
permanentes, procurando um “colo” para as suas angústias naqueles que deviam
estar a recebê-lo. Outro sintoma, ainda, quando pais pretendem ser os “melhores
amigos” dos seus filhos em vez de serem apenas aquilo que lhes compete e lhes é
pedido, serem pais. Se certas crianças pudessem comunicar sobre aquilo que as
rodeia, redigiriam um manuscrito que seria seguramente parecido com isto:
“Pais
e Crescidos:
Na
descoberta de nós próprios muitas vezes somos confundidos. A individualização é
um caminho básico para o bom desenvolvimento: 1) Não queremos partilhar todos
os nossos segredos convosco como se fossem os nossos melhores amigos e não
queremos igualmente saber dos vossos segredos, fardos ou intimidades. Pai é
pai, mãe é mãe, amigo é amigo e “cada macaco no seu galho”; 2) Não nos usem
para preencher vazios conjugais. Não podemos nem queremos preencher o lugar do pai
ou da mãe e não se iludam pensando que não damos conta; 3) Não nos usem para
repetir “abandonos” a que foram sujeitos e não nos usem para descarregar as
vossas zangas, frustrações e ansiedades; 4) Se não são suficientemente capazes
de tomar conta de vós próprios não deviam tomar conta de mais ninguém, não
conseguimos dar-vos o colo que os vossos pais não vos deram nem salvar-vos dos
vossos abismos; 5) Precisamos muito de vocês e não podem ser vocês a precisar
muito de nós. NOTA: Em boa verdade quando estamos todos misturados dá-nos a
ilusão de protecção eterna e até gostaríamos de dormir para sempre no vosso
quentinho mas sabemos que nem sempre os nossos desejos são adequados, porque somos
pequeninos e, por isso, os bons pais ajudam-nos a separar devagarinho a fantasia
da realidade. Não queremos com isto dizer que não façam o melhor que podem ou
que sabem. Mas como diz o ditado, de boas intenções está o Inferno cheio.
Obrigado,
As
Vossas Crianças.”
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domingo, 30 de junho de 2013
sábado, 1 de junho de 2013
terça-feira, 28 de maio de 2013
Quem pensas que enganas?
Procuramos
frequentemente esconder os nossos afectos e emoções. Ocultamos a irritação, disfarçamos
a desilusão, camuflamos o ciúme e mascaramos o medo. Escondemos a tristeza, a
raiva e mesmo o amor. Por vezes, conscientemente, outras, sem sequer nos
apercebermos desse conflito inevitável entre o que sentimos cá dentro e o que
queremos (ou que não queremos) passar para fora.
Fazemo-lo
por tantos motivos! Pode ser para seguirmos o “politicamente correcto” ou porque
não queremos admitir as nossas fragilidades. Porque não queremos criar
conflitos ou magoar alguém. Fazemo-lo porque, racionalmente, achamos que não
temos legitimidade para sentir certas coisas, ou porque queremos esconder de
nós próprios o que sentimos. Não importa aqui o porquê mas importa sobretudo perceber
que normalmente falhamos redondamente na nossa intenção de camuflar os nossos
afectos. É que os seres humanos são excelentes detectores de “mentiras
afectivas” uns nos outros.
Para
enganar (ou outro ou a nós próprios) usamos as palavras. Por trás das palavras,
usamos racionalizações (raciocínios lógicos).
Uma mãe diz que respeita muito a liberdade do seu filho mas de cada vez que ele
lhe omite algo íntimo fica sentida por ser posta de lado. Um homem chega a casa
e conta que ficou desempregado, ao que a sua mulher responde que tudo se irá
resolver mas nos seus gestos seguintes revela todo o medo, ansiedade e falta de
confiança no marido. Um filho apresenta um teste com uma nota mais baixa que o
costume e a sua mãe diz que não tem importância e que acontece aos melhores mas
nos seus olhos está espelhado o desapontamento. Um pai pergunta ao filho como
correu o seu dia mas depois, na verdade, não presta a mínima atenção ao que o
filho conta quando chega da escola. Em todas estas cenas há uma coisa que é
dita e uma outra diferente que é percebida e sentida na relação.
As
palavras contêm um significado objectivo e são uma arma de argumentação
poderosa nas relações. Só que há algo muito especial e subjectivo nos seres
humanos que é mais poderoso do que as palavras: os afectos. Na relação com os
outros, essa nossa subjectividade dança com a subjectividade do outro e descobrem-se
mutuamente. Chamamos a isto a intersubjectividade
na relação, ou seja, “eu sinto o que tu sentes e tu sentes o que eu sinto”.
Há
quem esconda bem os afectos. Com mecanismos de defesa muito sólidos. E, por
outro lado, também há quem tenha muito pouca capacidade de ler o outro para lá
dessas barreiras. Tristeza das tristezas é não vivermos essas danças a dois por
não estarmos verdadeiramente em relação com o outro. Numa relação sem comunhão afectiva
ficaremos meramente restringidos à troca de palavras, passando-nos ao lado os
afectos escondidos e deixando escapar as nuances
mais belas das relações humanas.
sexta-feira, 10 de maio de 2013
sábado, 27 de abril de 2013
domingo, 7 de abril de 2013
A construção da identidade
Não
se nasce com uma identidade estática e definida. Parte-se de uma identidade
biológica mas não é, contudo, isso que nos limita, na medida em que o nosso
programa genético é plástico e permite-nos seguir inúmeras direcções. A
construção da identidade é um processo dinâmico e pessoal, cuja base assenta
nas primeiras relações afectivas que nos rodeiam mas também no meio
sociocultural em que nos inserimos. Como tudo começa?
Durante
os primeiros 18 meses de vida, dá-se aquilo a que se chama a identificação
imagóico-imagética. O bebé identifica-se com a imagem que os outros
significativos lhe reconhecem e lhe transmitem. É uma identificação em espelho:
“eu sou aquilo que acham/dizem que eu sou e serei”. Pode originar um
desenvolvimento saudável ou, inversamente, patológico, pois o bebé sente e
assimila sentimentos, expectativas, crenças, medos e desejos (mesmo os mais
inconscientes ou mesmo os mais indesejáveis) que encontra junto daqueles que o
cuidam (ou descuidam). Pensa-se que seja a fase mais fundamental para a
construção de uma identidade própria.
Entre
os 18 e os 30 meses, a construção da identidade passa por um processo de
identificação idiomórfica, ou seja, identificamo-nos à nossa própria forma. Por
auto-observação. Olhamo-nos e olhamos também para o outro que será mais
parecido ou mais diferente de nós, estabelecendo comparações. Começamos a reconhecer-nos
como alguém e a percebermo-nos. Nasce também uma identidade sexuada onde percebemos
que somos menina ou menino e as diferenças de género subjacentes.
Posto
isto, entre os 3 e os 6 anos, numa terceira fase chamada identificação
alotriomórfica, a criança passa a identificar-se a um modelo, um objecto de
eleição ao qual procura assemelhar-se, alguém que admira e ama. Copia o que vê
o seu modelo fazer, pensar, agir, sentir e comunicar. Para o bem e para o mal.
Há modelos piores e modelos melhores. Mas importa dizer que mesmo os melhores modelos
não serão bons se não nos ajudarem a encontrar o nosso próprio estar e o nosso
próprio sentir. Pobre daquele que é apenas uma cópia do outro.
Assim,
pensar que a identidade só está estabelecida na idade adulta é um engano, pois
as bases começam muito antes. Contudo, certamente que este processo é uma
construção contínua, do início ao fim, e as nossas experiências de vida
continuarão sempre a moldar-nos. Por isso, aceitar tacitamente que somos
produto do que vivemos não será também caminho pois não nos podemos subtrair à
responsabilidade que temos nas escolhas que fazemos. A construção de uma
identidade será, sobretudo, uma criação própria. Temos capacidade de reflectir
e transformar e, como disse um dia Ray Charles, somos os nossos próprios
engenheiros.
Nota: Baseado no modelo de
construção de identidade de António Coimbra de Matos
quarta-feira, 20 de março de 2013
quinta-feira, 14 de março de 2013
Pedrinha (Do Tactear)
“É mesmo essencial,
para o seu equilíbrio psíquico e para a salutar expansão da sua personalidade, que o adolescente possa
tactear ou encetar vários caminhos antes de verdadeiramente escolher o que
melhor corresponde à sua maneira de ser, de sentir o mundo e de perspectivar o
futuro. Não lho permitir será amputá-lo para todo o sempre nas suas
potencialidades evolutivas.”
António Coimbra de Matos
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Vivência
Sobre outras perspectivas
"What if I should fall right through the center
of the earth... Oh, and come out the other side, where people walk upside down?
"
Lewis Carroll in Alice in Wonderland
domingo, 3 de março de 2013
Viver ou Sobreviver?
Nascemos.
Num determinado lugar e numa certa família, que não escolhemos. Dão-nos um
nome, que também não escolhemos, mas somos donos de um corpo e de uma alma. A
nossa alma (ou mente ou psique) permite-nos pensar e sentir, e esse corpo
permite-nos concretizar coisas. Chegados aqui, o que fazemos com isso? Que faço
eu da minha vida e que pretendo ainda fazer? Dar um sentido à vida é algo que vive
na mente de alguns mas não na mente de todos. Perspectivar o passado e planear
o futuro, sabendo de onde viemos mas olhando principalmente para onde nos
dirigimos é atribuir significado à nossa existência. E é fundamental. O sentido
da vida diverge de pessoa para pessoa, de dia para dia e, por vezes, de hora
para hora, pois o que interessa, sobretudo, não é um objectivo geral, único e
rígido, mas o significado específico que vamos atribuindo ao longo do tempo e
dos acontecimentos e que, naturalmente, se modifica e adapta em função do nosso
desenvolvimento pessoal.
Em
meados do século passado já tínhamos compreendido que os indivíduos que melhor
sobreviveram aos campos de concentração durante a II Guerra Mundial (os que
ficaram menos debilitados física e psicologicamente) foram maioritariamente
aqueles que se agarraram a uma razão para sobreviver e mantiveram em mente uma
motivação forte para o conseguirem. Mais recentemente, investigação médica
descobriu que um forte sentido de existência (e o bem-estar subjacente a esse
sentimento) se correlaciona com uma melhor saúde física e longevidade. E, por
fim, chegou-se à Saúde Mental: aqueles que desenvolvem objectivos para a sua
vida e que se empenham e comprometem na sua concretização tornam-se pessoas
mais felizes e saudáveis. Dar sentido à nossa vida protege-nos da depressão, da
ansiedade e mesmo da deterioração cognitiva. Novas evidências científicas
sugerem ainda que é uma capacidade essencial para atenuar os sintomas de
doenças degenerativas como o Alzheimer, num estudo que tem permitido concluir
que aqueles que em vida atribuem mais significado à sua existência e mantêm
presente os seus propósitos estão mais protegidos contra este mal.
São
aqueles que não se limitam a viver um dia de cada vez sem pensar no futuro, são
os que se sentem bem com o que fizeram da sua vida e com o que planeiam fazer
futuramente, aplicando-se na concretização dos sonhos, e ainda os que não
desistiram desses objectivos com o passar no tempo nem mesmo perante as
adversidades. O vazio existencial é uma morte lenta. Sonhar com esperança,
planear com entusiamo, concretizar com perseverança. Viver, e nunca apenas
sobreviver.
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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Pedrinha (Da Censura do Inconsciente)
“O inconsciente é o capítulo da minha história que é marcado
por um branco ou ocupado por uma mentira: é o capítulo censurado."
Jacques Lacan (Escritos)
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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
Certeza da Incerteza
Em todos os
manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Fernando Pessoa, Tabacaria
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Fernando Pessoa, Tabacaria
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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Pedrinha (das Ligações Empáticas)
A empatia é a ferramenta mais poderosa que possuímos para nos conectarmos com os outros. É a cola da conectividade humana
e permite-nos sentir, a um nível profundo, o que a outra pessoa sente em
determinado momento.
Irving
Yalom
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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
Culpas e desculpas
A
culpa é um sentimento ligado ao sentido de responsabilidade e à reflexão sobre
as consequências dos nossos actos. Para lá da sua definição mais básica, a
culpa é um sentimento complexo. É complexo porque existe a culpa dita normal,
lógica, mas também uma culpa que pode ser ilógica, logo, patológica. Este último
sentimento de culpa implica assumir uma culpa que não nos “pertence”, traduzindo-se
num estado constante de angústia e sistemática desvalorização de si mesmo. É deixar-se
culpar facilmente pelo outro em situações em que não é suposto, ou mesmo pedir desculpa ainda antes de sermos anunciados culpados. Deve
dizer-se que estes fenómenos se passam de forma mais ou menos inconsciente, ou
seja, sem alguém que nos ajude a pensar os nossos pensamentos não temos bem noção
do que fazemos com os nossos sentimentos de culpa.
Culturalmente,
durante muito tempo os indivíduos viveram em sociedades
limitadas pela culpa, onde muito era reprimido e pouco era permitido. A
culpabilidade é a uma belíssima forma de dominar o outro e o sentimento de
culpa é um severo carrasco. Uma pessoa dominada pela culpa fica amarrada ao outro
e presa dentro de si mesma. Neste contexto, há mais
de cem anos atrás, Freud descreveu o sentimento de culpa
como o mais importante problema no desenvolvimento da civilização desse tempo. Os
seus pacientes sofriam sobretudo de patologias associadas à grande culpabilidade
que sentiam. Reprimidos, não se permitiam ser autênticos, não se permitiam a
pensar pela sua cabeça nem a viver os seus afectos. O ser humano tinha muito
pouca liberdade de “ser”.
Aos
poucos, ao longo do séc. XX, as sociedades foram mudando e a culpa foi
abandonando o seu papel tão castrante no desenvolvimento do ser humano. Nesta
linha, Jacques Lacan, psicanalista francês do séc. XX, dizia que, em última
instância, a única coisa de que podemos realmente sentir-nos culpados é de abrir
mão dos nossos desejos. E assim foi. Sedentos de liberdade, fomos dando azo às
nossas vontades, cada vez com maior confiança e assertividade. Teremos caído no
outro extremo? Hoje, séc. XXI, fala-se muito da falta de limites nos indivíduos
(principalmente a propósito das crianças e dos adolescentes). Eventualmente mas
não generalizando, há casos de exageros, mas para não cairmos em tentação de
voltar aos “regimes” da culpa, queremos escolher um caminho mais adequado. Uma
consciência social, relacional, parental, e individual, com a responsabilidade inerente
ao bom desenvolvimento psicológico de cada um. Os
limites não são impostos só porque sim, é a realidade per si que nos continua a colocar os limites. Seremos sempre
movidos pela procura do prazer e da realização individual, mas embatemos todos
os dias nas interdições colocadas pela realidade. Esta é, inevitavelmente, a
condição humana.
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sábado, 2 de fevereiro de 2013
Pedrinha (do Ler, Escrever e Contar)
A partir
das minhas investigações sobre o comportamento evolutivo dos bebés, concluí que
geneticamente convém chamar leitura ao que cada um observa à sua volta; escrita
ao que se regista espontaneamente sobre coisas diversas; contar ao que se vive
corporalmente como ordem e quantidade.
João dos Santos
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sábado, 26 de janeiro de 2013
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
Corpos que Falam o que a Cabeça não Pensa
O drama maior é que em muitas pessoas, e
em particular nas crianças, a ansiedade e a tristeza se resolvem por doenças e
por comportamentos.
João
dos Santos (1980)
domingo, 13 de janeiro de 2013
Corpo e Psique - Definhar e Florescer
"Os estados afectivos persistentes de natureza penosa,
ou, como se costuma dizer, 'depressiva', tais como desgosto, a preocupação e a
tristeza, abatem a nutrição do corpo como um todo, causam o embranquecimento
dos cabelos, fazem a gordura desaparecer e provocam alterações patológicas nas
paredes dos vasos sanguíneos. Inversamente, sob a influência de excitações mais
alegres, da 'felicidade', vê-se o corpo inteiro
desabrochar e a pessoa recuperar muitos sinais de juventude. Evidentemente, os
grandes afectos têm muito a ver com a capacidade de resistência às doenças
infecciosas; um bom exemplo disso é a observação médica de que a propensão a
contrair tifo e disenteria é muito mais significativa nos membros de um
exército derrotado do que na situação de vitória. Ademais, os afectos – embora
quase que exclusivamente os depressivos – muitas vezes bastam por si mesmos
para ocasionar doenças, tanto no tocante aos males do sistema nervoso com
alterações anatómicas demonstráveis quanto no que concerne às doenças de outros
órgãos." (Freud em "Tratamento Psíquico (ou Anímico)", 1905)
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domingo, 6 de janeiro de 2013
Reflexão no Sapatinho (em Dia de Reis)
No
Natal passado especulou-se sobre o que estaria para chegar. Continuamos aqui,
ainda inteiros, e depois de um ano de dificuldades, penso que podemos pensar
sobre o outro lado da moeda, que mostra que estamos humanamente mais
“crescidos”. Arriscando dizer que somos hoje menos individualistas, já que nunca
como agora houve tanta consciência social. Repare-se no aumento exponencial de
movimentos solidários de recolha e distribuição de alimentos, brinquedos,
vestuário, livros, e tudo o mais que possa faltar numa casa de família. E não
só a nível institucional, mas atitudes solidárias em pequena escala, que nascem
do coração de alguns.
Sabemos
de famílias que este ano produziram, criativamente, os seus próprios enfeites
de Natal, recorrendo a materiais caseiros ou recolhidos na rua, trabalhando
afincadamente na exploração de tintas, papéis e tesouras. Tudo o que é feito
com as nossas mãos tem cheiro a afectos e com um carinho especial se orgulham
dos seus enfeites mais do que de qualquer outro adquirido anteriormente num balcão
alheio.
Parece
também que todos reduziram a sua lista de presentes, que não só incluía a “prima
da vizinha” (tantas vezes só para parecer bem) como também incluía presentes de
valor o mais elevado possível (como se o valor fosse espelho do afecto nutrido
pelo outro). Hoje procuram-se presentes mais adequados e em quantidade mais
adequada. Sobretudo, é o acto de compra impulsiva que perde força este Natal. Pensa-se
mais antes de agir. Mais, muitos fazem este ano os seus próprios presentes ao
invés de comprar e há ainda quem prefira aderir a iniciativas de pequenos
comerciantes ou artesãos. Porque prosperam negócios caseiros, de elevada
qualidade e preço acessível, nascidos da necessidade e da criatividade de gente
cheia de talento que nunca deu oportunidade a si mesma de pôr mãos ao trabalho
e deixar a imaginação voar. Trabalhos de bijuteria, de costura, de culinária, de
pintura e experiências a tantos níveis. Artesãos dos tempos de crise que talvez
encontrem aqui, este Natal, a semente de uma ideia que venha a germinar no
futuro.
Em
poucos meses, e embora quase por obrigatoriedade, caiu por terra a atitude
excessivamente consumista e passiva que coloriu o Natal dos últimos anos. E,
curiosamente, não deixamos de sentir um “espírito natalício” por aí, que agora
parece vir mais de dentro para fora e não tanto de fora para dentro. Nem tudo o
que nasce no seio de uma crise é necessariamente mau, e assim, começando com um
Natal mais humano, quem sabe depois esta postura possa ir entrando devagarinho
pelas nossas casas, ensinando-nos um equilíbrio social e económico que
poderíamos estar quase a perder de vista.
Bom ano!
Para ganhar um Ano
Novo
que mereça este nome,
você, meu caro,
tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo,
eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você
que o Ano Novo cochila
e espera desde sempre.
você, meu caro,
tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo,
eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você
que o Ano Novo cochila
e espera desde sempre.
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