domingo, 22 de julho de 2012

Sunny Sunday



“Sunny,
Thank you for the sunshine bouquet.
Sunny,
Thank you for the love you brought my way.”

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Pedrinha (Das fronteiras necessárias)


“Os bons pais seriam auxiliadores da separação clara entre fantasia e realidade. Nem sempre este equilíbrio é conseguido e a confusão inicia-se, cresce, invade o Eu e surge a ruptura e o sofrimento. Na geração de adultos-pais, falha a capacidade de se separarem dos próprios filhos. O primeiro sintoma deste caos confusional é a abolição de limites-fronteiras claras, entre a geração de pais e a geração de filhos. São os banhos comuns, camas comuns, partilha obrigatória de segredos em todas as direcções, etc. A criança entra em luta por uma sobrevivência e uma autonomia enquanto lhe resta alguma energia disponível, mas se os benefícios narcísicos persistem (“sou igual ao pai porque durmo com a mãe como ele”), a patologia instala-se e pode estabilizar no negativo.”

Teresa Ferreira (in Em defesa da criança)

Pedrinha (Dos amores das crianças)



"A capacidade ou incapacidade de amar tem a sua génese na infância, embora a vivência de uma autêntica relação amorosa só seja possível a partir da adolescência."

Teresa Ferreira (in Em defesa da criança)

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Pedrinha (Do conhecer, compreender e transformar)


"A psicanálise serve para aprofundar o auto-conhecimento, e não só; também o conhecimento do outro (os outros) e, sobretudo, das relações não só interpessoais mas essencialmente intersubjectivas."

António Coimbra de Matos


Nota: Estes conhecimentos, por si só, não resumem a psicanálise nem a psicoterapia psicanalítica. Depois de conhecer, despontará o compreender. Estabelecer ligações entre o que é e o que foi. E, por fim, é preciso transformar. O que será. Passado, presente e futuro. Ligados. Descobrir, aceitar,  compreender, integrar e transformar. Em busca do melhor que temos dentro de nós.

O sentido da vida


Não gostamos de falar sobre a morte. Nem sequer de pensar sobre a morte. Também não parece muito confortável ler sobre a morte. Se calhar, depois de a palavra morte surgir tantas vezes, sem eufemismos, muitos interromperão, já aqui, a sua leitura. Quem ama a vida, sofre quando pensa na morte. E teme-a, dada a sua inevitabilidade.
Ganhamos, desde cedo, consciência do fim da vida. Essa consciência conduz-nos a um tipo de angústia muito particular, a angústia existencial, que embora surja logo na infância, se torna mais pensada (logo, mais sentida) a partir da adolescência. À volta desta angústia nascem questões que, com maior ou menor frequência, todos já colocámos: O que há depois da morte? Qual o sentido da vida? Existe Deus? Será, a alma, imortal?
Como lidamos nós com a certeza da nossa finitude?
Para quem, através da fé religiosa, encontra as suas respostas para estas perguntas, torna-se mais fácil viver sem grandes problemas existenciais. É uma forma de dar um sentido à nossa existência e que nos garante o reencontro das almas mesmo depois do adeus.
Para quem estas perguntas ficam sem resposta, para os que não encontram aqui a serenidade necessária, são adoptadas outras maneiras de seguir em frente (sabendo que seguir em frente significa seguir em direcção à morte). Perante a angústia existencial, encontramos um mecanismo de defesa psicológico chamado evitamento, que nos ajuda a “esconder” de nós próprios os nossos maiores receios (e outras emoções). É útil, caso contrário, estaríamos todos mais ocupados a questionar a fragilidade da vida do que a vivê-la. Na sua vertente mais patológica, o mecanismo do evitamento pode assumir a forma de delírio. Aí, quando a dificuldade de pensar a morte se mascara de indiferença ou até de omnipotência, tendemos a “desafiá-la” inconscientemente e, à custa disso, podemos encontrá-la mais cedo.
O mecanismo de evitamento mais saudável é de outra qualidade, é a resignação/aceitação. A maioria de nós apaga a consciência da morte enquanto se entretém com as tarefas da vida. Percebemos que a melhor forma de não temer a morte é dar sentido à vida. É aproveitá-la. É amar e ser amado, crescer, criar vínculos e/ou descendência, produzir obra e deixar um legado. Temos a liberdade de escolher que sentido dar à nossa vida, contudo, de tudo o que podemos escolher, que seja uma escolha de amor. É pelo amor que melhor se ultrapassa a angústia existencial. Pelo estabelecimento de relações significativas e criativas. O amor por nós e pelo outro é o espelho do amor pela vida (que é, no fim de contas, feita da soma de nós e dos outros).

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O Estranho do Lado


“ (…) Assim como na Física há uma lei segundo a qual dois corpos não ocupam o mesmo espaço ao mesmo tempo, deve haver outra lei, no universo subjetivo, que impede duas individualidades de viverem a mesmíssima vida. Tenho a impressão que a insistência em contrariar esse princípio está por trás de muitos e graves desencontros por aí.
Desde a adolescência, e provavelmente ainda antes, somos alimentados com a ilusão de que um dia encontraremos alguém com quem iremos nos fundir. A tal pessoa, aquele, a mulher da nossa vida, o príncipe encantado – todos esses são agentes do destino que teriam a função, na nossa história pessoal, de rasgar a couraça da individualidade, penetrar nosso casulo e nos salvar, de forma permanente, da horrível solidão de ser um indivíduo. A partir desse momento redentor, a nossa dor fundamental seria superada e seríamos, então, felizes para sempre. No outro.
Algumas vezes, mesmo na vida real, chegamos perto desse estado idílico de aniquilação. É quando estamos apaixonados. Nesse momento mágico – e, segundo o Freud, patológico - nossos sentimentos em relação ao outro são tão violentos que parecem romper o isolamento essencial. Em tal estado de comoção de ser parte do outro. Se ele se afasta, sentimos dor. Se ele está perto, sentimos prazer. Parece ser impossível viver sem ele, porque se tornou parte de nós.
Em “O Monte dos Vendavais”, a jovem apaixonada diz ao rapaz “Eu te amo”, e ele responde “Eu sou você”. Não existe na literatura ou no cinema uma declaração de amor mais radical do que essa.
Há outro momento em que também nos sentimos perto desse sentimento. É no sexo. Em meio ao prazer, aquilo que nós somos desaparece temporariamente em direção ao outro. Mergulhamos numa torrente tão intensa que, por alguns minutos, não somos mais que o conjunto daquelas sensações. Há uma pequena morte aí, um breve suicídio prazeroso no qual mergulhamos felizes, levado pelo corpo e pela personalidade do outro.
Mas esses momentos são terrivelmente efêmeros, não? Mesmo a mais intensa paixão é passageira. Cedo ou tarde, ainda que contra a nossa vontade, somos arrastados de volta à normalidade de sermos apenas um. Logo chega o momento em que é preciso negociar com a personalidade do outro, com a percepção do outro, com o desejo do outro. Com isso se desfaz a ilusão de pertencer. Deparamos, de novo, com a nossa assustadora e iniludível solidão interior. Sabemos disso, vivemos isso desde crianças, mas uma parte de nós continua sonhando com uma paixão tão arrebatadora, tão dominante, que nos livre para sempre de nós mesmos. Crescer, eu acho, é deixar também essa fantasia para trás.
Alguns recusam isso terminantemente. Insistem em esperar pelo sonho ou – muito pior - tentam transformar a vida real a dois num exercício de destruição das personalidades. Fazemos tudo juntos, pensamos o mesmo, gostamos das mesmas coisas, compartilhamos as mesmas experiências, dizem. Na boa ou na marra, vão arrastando o outro a uma vivência que é uma réplica da sua. Até o ponto em que, de tão parecidos, não tenham mais nada a contar um ao outro. Então se separam.
Estou exagerando? Claro que sim. Mas, mesmo entre pessoas que não vivem na caricatura, o impulso comum de controlar o outro faz parte do movimento de negação da individualidade. Ele se recusa a reconhecer o outro com as suas necessidades próprias, sua existência fora de nós. O desejo de aprisionar é o impulso de se proteger do outro, que, insistindo em ter vontade própria, pode fazer algo que nos machuque.
Enfim, acho que é disso que os sonhos falam. Da nossa vontade de ser forte como indivíduos e do nosso medo oceânico de nos desligarmos dos outros. Da contradição entre a vontade de crescer e o impulso de permanecer um bebê chorão, ligado ao outro por um cordão umbilical. Os sonhos contam que o amor, lindo que é, essencial como possa ser, não nos salva de sermos nós mesmos. Mesmo quem respira suavemente ao nosso lado, adormecida, tem sonhos separados dos nossos. É uma pessoa estranha que amamos, mas sobre a qual nunca saberemos o suficiente. É preciso respeitar esse mistério.”
Ivan Martins

terça-feira, 3 de julho de 2012

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Pedrinha (Dos jogos de amor)



Jogos de amor. Mas será o amor um jogo ou um trabalho? As duas coisas: um divertimento (o melhor de todos) e um trabalho produtivo – de reconhecimento mútuo, permuta afectiva recíproca, crescimento pessoal diadicamente expandido, desenvolvimento de valências individuais não saturadas, comunhão de sonhos possíveis e projectos realizáveis e, acima de tudo, de criação (…)

António Coimbra de Matos (in Relação de Qualidade: Penso em Ti)

Poesia

Daniel Faria - Inéditos

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Tá ligado?


Escutar e ouvir são coisas diferentes, de diferente natureza e profundidade. Por ouvir entende-se a capacidade de perceber através do sentido da audição. Não se aprende, é uma capacidade inata que pode ser encarada como uma função mecânica na condição humana (e animal). Escutar, por sua vez, é um ouvir de outra qualidade. Requer ouvir com atenção. Quem escuta, ouve, mas nem sempre quem ouve, escuta. Escutar é uma capacidade esquecida.

Embora reconheçamos a importância de prestar atenção ao que as pessoas nos dizem, de um modo geral, somos maus ouvintes e falhamos redondamente nesta questão tão importante em qualquer relação humana. Hoje, em pleno apogeu do individualismo, falta sempre disponibilidade (de tempo ou vontade) e então não escutamos. Quando perdemos a paciência, quando interrompemos o interlocutor ou atropelamos o que nos diz com julgamentos inoportunos ou críticas. Não escutamos quando deixamos de prestar atenção e passamos a pensar em nós mesmos ou em outra coisa qualquer. Também não escutamos quando bloqueamos a nossa atenção com sentimentos negativos. Nem escutamos quando sonhamos acordados enquanto alguém fala.

 Há muitos motivos para não ouvir mas, essencialmente, não somos capazes de escutar se estivermos nós próprios, também, a precisar de ser ouvidos. Para se escutar alguém é necessário estar mentalmente (logo, emocionalmente) disponível para isso. A escuta é uma arte que requer descentração de nós próprios. Se estamos focados nos nossos pensamentos ou sentimentos, dificilmente podemos oferecer o tempo de antena necessário ao nosso interlocutor. Claro que seria impossível escutar activamente uns e outros, com inteira atenção, a todo o momento. É que também precisamos de tempo para ficarmos entregues ao que nos vai cá dentro.

Nas relações humanas, muitos não se sentem escutados. E ninguém gosta de “falar para as paredes”. Escutar é a mais crítica das habilidades de comunicação e talvez a mais importante para haver bem-estar entre as pessoas. Sermos ouvidos com genuína atenção dá-nos a percepção de que importamos. Seja para partilhar uma dor, uma alegria ou um anseio. Seja para emitir uma opinião ou para pedir um conselho. Ter uma voz e vê-la reconhecida e considerada é fundamental. Permite-nos sentir amparados e compreendidos. A expressão “Tá ligado?” é utilizada pelo povo brasileiro para questionar o interlocutor sobre se este entendeu o que foi comunicado. De facto, quando escutamos, estamos ligados ao outro. Estamos em relação com alguém. Se não nos ligarmos, não poderemos escutar. Poderemos, quando muito, ouvir. E, no final, rematar, “hum?”

terça-feira, 19 de junho de 2012

Desafio

O Velho, o rapaz e o burro


  

Um velho, um rapaz e um burro na estrada.
Em fila indiana os três caminhavam.
Passou uma velha e pôs-se a troçar:
-O burro vai leve e sem se cansar!
O velho então pra não ser mais troçado,
Resolve no burro ir ele montado.
Chegou uma moça e pôs-se a dizer:
-Ai, coisa feia! Que triste que é ver!
O velho no burro, enquanto o rapaz,
Pequeno e cansado, a pé vai atrás!
O velho desceu e o filho montou.
Mas logo na estrada alguém gritou:
-Bem se vê que o mundo está transtornado!
O pai vai a pé e o filho montado!
O velho parou, pensou e depois
Em cima do burro montaram os dois.
Assim pela estrada seguiram os três:
Mas ouvem ralhar pela quarta vez:
Um rapaz já grande e um velho casmurro.
São cargas de mais no lombo de um burro!
Então o velhote seu filho fitou
E com tais palavras, sério, falou:
Aprende, rapaz, a não te importar,
Se a boca do mundo de ti murmurar.
Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 9 de junho de 2012

Histórias de Criatividade



Em 1913, na zona balnear de Deauville, encontravam-se reunidos os amantes de corridas de cavalos. Entre eles, um casal de namorados que lá passava uma temporada. Ela, francesa, mulher de história triste que por dor ou vergonha escondia e negava as suas origens, modista de moderado sucesso na criação de chapéus. Ele, inglês, intelectual ligado à política, jogador de polo, não o seu primeiro nem único homem, mas o seu grande amor e, sobretudo, o seu maior apoiante. Certa manhã, a modista decidiu que vestiria uma camisola de malha dele, mas não pela cabeça. Cortou-a pela frente. Para não estragar o penteado ou por mero capricho, não sabemos. Improvisou uma gola e um cinto com retalhos do mesmo tecido e, finalizando, coseu-lhe dois enormes bolsos “na altura exacta em que as mãos gostam de descansar”. Surpreendentemente, com a diferença de estatura entre ambos, a malha caiu como se fosse um vestido. Essa mulher era Gabrielle “Coco” Chanel. O seu homem, Arthur “Boy” Capel. A peça, o cardigan, reinventado para o feminino. Saindo à rua, “todos me perguntavam onde o tinha comprado e eu respondia, se quiser, vendo-lhe um. Nesse dia, vendi dez modelos iguais.” De modista a maior estilista do séc. XX, uma self-made woman visionária, dona de uma criatividade que aliou como ninguém o clássico ao revolucionário, afirmou pouco antes de morrer: ”A minha fortuna foi construída em cima daquela malha velha que eu vesti porque fazia frio em Deauville".

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Histórias de Psicoterapia


"(...) Com que ferramentas trabalha? A realidade é o próprio paciente, trabalho com aquilo que sente. Na psicanálise clássica, avançava-se com toda uma teoria que comprovasse os sintomas. Agora, há um novo paradigma, em que se entende que o processo de psicanálise é um processo que induz mudança. Este movimento tem origem num grupo de psicanalistas de Boston, com o qual eu me identifico. Baseia-se na ideia de que um indivíduo, perante as vivências que teve - não só na infância, mas também na adolescência -, adquiriu uma determinada personalidade ou um determinado estilo de relação menos saudável e menos produtivo para si. O processo de análise consiste em ir interpretando este estilo no sentido de resolver e de estabelecer uma relação mais saudável, de forma a que possa traduzir o que se passa no consultório para a sua vida real.

Como é que decorre o processo terapêutico? É o mesmo de sempre. Decorre a partir da conversa entre analista e paciente. A forma de conduzir é que é diferente. Em vez de termos na cabeça uma teoria que aplicamos, procuramos observar o que se passa com aquele paciente, vamos interpretando e construindo hipóteses em conjunto. Para mim, a questão fundamental é que uma pessoa seja capaz de se autoanalisar e que acabe a análise com uma capacidade de reflexão sobre si próprio maior do que a tinha. (...) "


António Coimbra de Matos (em entrevista ao jornal Expresso, a 3/8/2010)

Pedrinha (Dos prazeres imediatos)


Penso que hoje há uma tendência para a procura dos prazeres imediatos e uma certa dificuldade em acertar com o tempo de espera.

António Coimbra de Matos

quarta-feira, 6 de junho de 2012

O "conforto" do familiar


Não se aprende sozinho nem de repente a ser aquilo que nunca fomos. Não se aprende por instinto a sentir essa espécie de paz/felicidade que nunca foi sentida. É algo que nos é estranho. Mesmo quando ao nosso redor se encontram circunstâncias felizes, podemos “preferir”, inconscientemente, a familiaridade da melancolia ou da depressividade. Podemos não conseguir sair desse lugar que tão bem conhecemos. Podemos não nos permitir sequer tentar. No fim de contas, querendo ou não, são sempre as nossas amarras internas que nos limitam.

“Os meus estados deprimidos ainda me seduzem e fazem falta para me sentir preenchida por dentro. Ainda confio nas minhas tristezas e ainda as chamo, admito. Aconteça o que acontecer, desde que as chame, aparecem sempre. São de confiança. E depois, o que se faz mesmo com a felicidade? É-se feliz, e depois? Depois deve ser preciso aprender a viver-se feliz, a acreditar que se merece, a aprender a não ter medo que algo de terrível aconteça, a fazer as pazes com o que se passou connosco, a aceitar, a perdoar, a aprender a continuar, a acreditar, a confiar, a transmitir, a não desistir, a lidar com o vazio e a preenchê-lo com coisas bonitas feitas por nós. A infelicidade não me exige nada disso, é só deixar-me estar.”

Marta Gautier

Bom dia, Mundo!

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Depressão na Recessão


Faz algum tempo, no dia 19 de Janeiro, foi entrevistado num canal da nossa televisão o Prof. Carlos Amaral Dias, psiquiatra e psicanalista português. O conceito central discutido foi “depressão na recessão”, que diz respeito ao súbito aumento da taxa de suicídio em Portugal (e também em outros países, como a Grécia ou a Irlanda) e de perturbações depressivas associadas à conjuntura económica actual. O impacto da crise económica e social na saúde mental dos portugueses é inquestionável, uma vez que “a pobreza, o desemprego e a exclusão social são factores que levam a um conjunto de afectos como a tristeza, sentimentos de ruína e sobretudo os sentimentos de desespero”, como foi referido. Estes afectos estão correlacionados com o aumento do índice suicidário, bem como com o aumento do número de depressões.

O desemprego e a precariedade em que muitos portugueses hoje vivem originam frequentemente sentimentos de auto desvalorização e a sensação de fracasso. Contudo, o impacto psicológico da crise assume contornos diferentes em função da faixa etária da população. É fundamentalmente na meia-idade que se verifica maior incidência de sintomas de depressão, esta estreitamente relacionada com o sentimento de perda, já que muitos indivíduos tinham a sua vida relativamente organizada e, subitamente, são forçados a lidar com a perda de rendimentos, de emprego ou de casa. Em acréscimo, torna-se muito angustiante para um indivíduo de meia-idade imaginar a possibilidade a oportunidade de “recomeçar do zero”. No que respeita à juventude, o impacto psicológico não está tão relacionado com a depressão, mas encontram-se muitos sintomas de ansiedade, espelhando o medo do futuro.

Em momento de “cortes” na Saúde e na Segurança Social e, portanto, na ausência de um sistema nacional que possibilite um suporte psicológico adequado ao momento de crise, impera a necessidade de o indivíduo procurar apoio na sua rede social, isto é, na família, nos amigos e na comunidade. Contudo, para que isso aconteça é essencial que cada um reconheça (perante si próprio e muitas vezes perante os outros) as suas dificuldades, pois existe sempre muita vergonha associada às situações de carência económica e, mais ainda, vergonha relativamente à fragilidade psicológica. Paradoxalmente, importa dizer que existe sempre mais força no indivíduo que assume as suas fragilidades do que naquele que as esconde. Em acréscimo, sabe-se que negar e fugir da nossa verdade (interna e externa) é uma das causas de mal-estar psicológico. O acto de pedir ajuda (seja de que ordem for) é, por si só, um acto de Saúde Mental.